5 perguntas e 5 respostas com Heloísa Neves

Blog 5 perguntas e 5 respostas com Heloísa Neves

16/05/2016
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“Faça você mesmo”.

Esse é o conceito que está por trás de uma corrente que vem crescendo em todo o mundo: o Movimento Maker, ou Maker Movement.

Um dos principais espaços onde os makers dão vida aos seus projetos são os Fab Labs, laboratórios técnicos estruturados para a prototipagem de novas ideias.

Todo Fab Lab também é uma plataforma de aprendizagem, que desenvolve o empreendedorismo local e estimula a inovação.

Heloísa Neves é uma das principais embaixadoras do Movimento Maker no Brasil.

O Centro Sebrae de Referência em Educação Empreendedora aproveitou a passagem dessa especialista por Belo Horizonte para conversar um pouco sobre o contexto atual da Educação Empreendedora no Brasil.

CREE – Como acontece o processo de aprender o empreendedorismo dentro de um Fab Lab?

Heloísa Neves – Eu entendo que “empreendedora” seria aquela pessoa que tem autonomia, que realiza ações e tem atitude para quebrar regras quando necessário. Acho que esse é um espírito das empresas Startups que deveria migrar para pequenas, médias e grandes empresas que têm um pensamento mais tradicional.

O Movimento Maker é muito isso. Dentro de qualquer espaço maker, como um Fab Lab, as máquinas e a tecnologia são fundamentais, uma vez que nos permitem concretizar coisas, mas o potencial de colaboração, a capacidade de trabalhar em rede e de realizar são o mais importante.

Então, eu acredito que esse espírito maker é a base do empreendedorismo e isso é uma das principais competências que se pode desenvolver em um Fab Lab.

CREE – Quais os principais desafios para que as instituições de ensino atuais elevem o empreendedorismo para dentro da sala de aula?

Heloísa Neves – A principal barreira é o currículo brasileiro muito fechado, baseado em competências e habilidades de que não precisamos mais e que não são mais suficientes para atuarmos no mundo de hoje.

Por mais que seja inovadora, a escola está muito amarrada a algumas regras do MEC e não pode trazer muitas ideias novas. Além disso, ainda temos uma geração de pais que cobram das escolas o ensino desse conteúdo tradicional, já que foi assim que eles aprenderam.

O engenheiro paulistano Paulo Blikstein, professor doutor do Centro Lemann, em Stanford (USA), para o Empreendedorismo e Inovação na Educação Brasileira, diz que é muito difícil implementar um modelo como esse nas escolas de hoje porque, para colocar algo novo, alguma coisa antiga tem de sair.

Habilidades novas como inovação, colaboração e empreendedorismo não cabem dentro do currículo antigo, e ninguém quer sair da zona de conforto para tirar alguma coisa desse currículo.

CREE – É possível incentivar a atitude empreendedora desde cedo?

Heloísa Neves – Eu não só acredito que sim, como acho fundamental que isso aconteça. Já tive experiências com crianças em alguns espaços maker e o que percebi foi que elas sempre chegam esperando que nós ditemos as regras para que elas realizem algo. E isso é exatamente o oposto da atitude empreendedora que pretendemos estimular.

Parece que elas já vêm programadas para receber uma tarefa que depois será aprovada, ou não, pelo professor.

O que a gente tenta inspirar nessas crianças é a autonomia e a confiança, mostrando que são elas que precisam encontrar o caminho para iniciar e concluir um projeto.

Também procuramos fazer com que elas entendam que nem sempre o projeto precisa ser perfeito, e que, muitas vezes, esse pode dar errado. É importante que elas convivam com a frustração e se deparem com problemas não matemáticos complexos.

Essa é a semente que deveria ser plantada pelas escolas para que os alunos crescessem acreditando que podem fazer acontecer.

CREE – Qual seria o impacto de termos toda uma geração formada com atitude empreendedora?

Heloísa Neves – Eu acredito que teríamos um grande impacto sobre a ideia que esses jovens trariam consigo em relação a cursar uma faculdade. É bem provável que, para uma geração formada com atitude empreendedora, não ingressar em uma faculdade seja algo muito mais natural. A menos que as faculdades mudem também. Caso contrário, elas tendem a não ser uma opção para uma geração como essa.

Esses jovens terão em mente empreender ou sair para estudar fora do Brasil em instituições que possam oferecer esse tipo de experiência: mais aberta, conectada com a realidade e ligada à inovação.

É muito importante que esse Movimento Maker tenha início no ensino fundamental e chegue até a Universidade para que os jovens daqui também tenham acesso a esse tipo de pensamento no ensino superior.

O que faz todo sentido, não é? Todos sabem que as faculdades estão precisando se reciclar e talvez esse seja o caminho.

CREE – Se você tivesse de deixar uma mensagem para educadores ainda não conectados com o empreendedorismo ou o Movimento Maker, qual seria?

Heloísa Neves – Isto pode parecer direto demais, mas é necessário que seja dito: o Movimento Maker – inovação, criatividade e o empreendedorismo – não é uma onda ou algo que vai passar. Tudo isso já está presente na vida dos jovens de hoje.

É uma realidade e veio para ficar.

Então, se os professores vão ou não adotar esse tipo de pensamento, não deveria ser a pauta da discussão. Deveríamos estar debatendo quando eles levarão essa cultura para dentro da sala de aula. Afinal, não devemos mais permitir que sejam transmitidos às nossas crianças conhecimentos sobre um mundo que já não mais existe, que não é real.

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