A percepção da educação para 2022 – entrevista com Débora Garofalo

Blog A percepção da educação para 2022 – entrevista com Débora Garofalo

03/03/2022
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Depois de dois anos de pandemia, é praticamente impossível o formato da educação e do processo de aprendizagem ter continuado intacto, certo? Se as tendências mundiais surgem, quase diariamente, podemos dizer que esse período acelerou mudanças que estavam para ocorrer. Saiba mais sobre a educação para 2022. 
Ensino híbrido, desenvolvimento da educação , valorização das soft skills, e-learning? O que podemos esperar para 2022? Para aprofundar um pouco mais no assunto, conversamos com a professora Débora Garofalo, a primeira brasileira e a primeira sul-americana a ser finalista no Global Teacher Prize – prêmio considerado o Nobel da Educação. Confira!

1. Quais são as tendências que você vê para a educação em 2022?

Elas estão muito relacionadas ao uso da tecnologia dentro da sala de aula e à personalização do ensino. O ensino híbrido trouxe novas abordagens para dentro da sala de aula, principalmente por conta da pandemia, mas mostrou possibilidades de personalizar esse ensino. São essas as tendências de ensino para 2022 que vêm consolidar toda uma discussão já latente sobre esses assuntos.
Além disso, é essencial falarmos sobre a gestão da sala de aula – a otimização do processo de ensino e a educação do professor, possibilitando que esse mesmo professor dê mais atenção ao processo de ensino-aprendizagem com ferramentas que propiciem suporte para a parte burocrática do aprendizado.

2. Como você enxerga o modelo do ensino híbrido e como entende que ele pode apoiar o processo de aprendizagem?

O ensino híbrido veio para ficar justamente pelo potencial que ele tem de alavancar o processo de ensino-aprendizagem. É a possibilidade de transformação do ensino. Já entendemos que os nossos estudantes aprendem em ritmos diferenciados. O ensino híbrido trabalha justamente nessa personalização do ensino, por meio das suas várias modalidades de ensino (rotação por estações, laboratório rotacional, rotação individual, sala de aula invertida). A partir do momento em que começa a trabalhar com essas novas abordagens, o professor apresenta ao estudante o conteúdo de uma maneira muito mais dinâmica e atrativa, fazendo com que ele assuma o protagonismo, e o professor atue como mediador dessa aprendizagem.

3. Ainda sobre o ensino híbrido, acreditamos que ele possa andar de mãos dadas com a Educação 5.0, certo? Como você enxerga essa “parceria”? 

É preciso salientar que a Educação 5.0 vem do processo da Educação 4.0, que já trouxe a questão da cultura maker como uma grande porta de entrada para que a gente pudesse trabalhar com os estudantes. Além da própria cultura maker, a inovação, a robótica, a programação, a Internet das Coisas (IoT) e a inteligência artificial. A Educação 5.0 nada mais é do que uma continuidade à 4.0, mas que trabalha de maneira humanizada a tecnologia.
Quando a gente fala de novas abordagens, sempre devemos pensar na tecnologia como uma propulsora dos processos de aprendizagem – ela não tem uma finalidade, por si só, de transformar a educação. Para que seja transformada, a educação precisa vir acompanhada de novas abordagens de ensino. E é aqui que entra o ensino híbrido, que caminha lado a lado e agrega dentro do universo da Educação 5.0, trazendo a possibilidade de trabalhar de forma diferenciada dentro da sala de aula.

4. E as soft skills, que também estão entre as tendências de educação para este ano, como podem ser trabalhadas e desenvolvidas pelos educadores?

O desenvolvimento da inteligência emocional já é algo latente na nossa educação, principalmente quando a gente prioriza uma educação pautada por princípios integrais. A escola, por muito tempo, privilegiou o cognitivo. Com a mudança desse século e as necessidades e tendências de trabalhar outros aspectos, isso apareceu de um modo muito forte. As habilidades socioemocionais precisam estar presentes a todo momento.
Se olhar as 10 competências da BNCC, a gente vai ver que, em cada competência, está também empregado o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Isso faz com que seja necessário que o professor priorize o desenvolvimento dessas habilidades e competências em seu ensino.

5. Você acredita que a Educação Empreendedora possa ajudar a desenvolver essas competências socioemocionais?

A Educação Empreendedora vem com o foco de fazer com que o estudante caminhe para uma gama e alie isso ao seu projeto de vida. Antigamente, a gente preparava os estudantes porque eles teriam uma jornada, um emprego para a vida inteira. Hoje a gente sabe que o mercado mudou muito. Ter os estudantes olhando como empreendedores ajuda no desenvolvimento de habilidades socioemocionais e permite que eles lidem com frustrações, emoções e sentimentos que, antes, não teriam oportunidade.
A partir do momento em que estão idealizando uma solução – trabalhando com design thinking, com metodologias ativas –, eles também estão desenvolvendo competências socioemocionais. Estão lidando com a solução de problemas e aplicando isso na rotina, seja da vida escolar, seja do território educativo, seja de uma premissa para o desenvolvimento de alguma solução. A partir disso, então, eles estão lidando com as suas emoções e, ao mesmo tempo, exercitando um pouco de todos esses sentimentos, vivenciando a Educação Empreendedora.

6. O e-learning é uma realidade cada vez mais presente em todo o país, e a pandemia catalisou esse processo. Como você acredita que os educadores podem unir o poder da sala de aula às possibilidades do mundo digital?

O aprendizado mediado por tecnologias, ou o aprendizado remoto, deu-se muito em decorrência da pandemia. Mas ele trouxe aprendizados fortíssimos – de que nada substitui as aulas presenciais ou o professor dentro da sala de aula, por exemplo, principalmente quando a gente olha para a Educação Básica, dos anos iniciais, da primeira infância até os anos finais.
Porque os estudantes ainda não têm essa autonomia para potencializar, mas têm o poder de alavancar o ensino de aprendizagem, de cuidar um pouco dessa recuperação, em especial quando há a possibilidade de trabalhar com plataformas adaptativas. O e-learning é uma tendência que precisa ser explorada e potencializada com a finalidade pedagógica de alavancar o processo de ensino-aprendizagem.

7. Como você vê a aplicação da robótica em sala de aula neste ano, especialmente no cenário do Novo Ensino Médio?

A robótica pode ser trabalhada desde o Ensino Infantil até o Ensino Médio, porque ela tem um enorme potencial. Ela oferece a oportunidade de trazer para o estudante um aprendizado diferenciado porque o estudante constrói o seu protótipo. Ou seja, ele tem todo um processo de construção e de conhecimento.
Para isso, o aluno vai mobilizar diversas áreas do conhecimento, mas também vai trazer o desenvolvimento de competências socioemocionais, resolução de problemas, colaboração, empatia, frustração, o erro. Então há uma funcionalidade, especialmente para o Ensino Médio, de vivenciar o que existe por trás dos dados. Não necessariamente fazer com que eles sejam programadores, esse não é o intuito. Pelo contrário, é fazer com que eles reflitam em uma sociedade que está cada vez mais conectada digitalmente, cujos bastidores eles compreendam. Que eles possam ser não apenas consumidores de tecnologia, mas que possam, principalmente, produzi-la.
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