Aprendizagem afetiva: o que é e como desenvolver no ambiente escolar

Blog Aprendizagem afetiva: o que é e como desenvolver no ambiente escolar

11/10/2023
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Falar em aprendizagem afetiva é se referir a um processo educativo que considera a individualidade de cada membro da comunidade escolar, que reconhece o valor do autoconhecimento para o processo e enaltece a importância da interação humana e da interação social na construção do aprendizado

Mas o que é uma aprendizagem afetiva, afinal, e como colocá-la em prática? Respondemos a essas e a outras questões neste post. Acompanhe! 

O conceito de aprendizagem afetiva 

O educador francês Henri Wallon (1879-1962) é uma das figuras que se destacam quando o assunto é afetividade na educação e aprendizagem afetiva. Uma de suas teorias passa pela defesa de que a vida psíquica é formada por três dimensões, que coexistem e atuam de forma integrada –  a motora, a afetiva e a cognitiva. 

“O espaço não é primitivamente uma ordem entre as coisas, é antes uma qualidade das coisas em relação a nós próprios, e nessa relação é grande o papel da afetividade, da pertença, do aproximar ou do evitar, da proximidade ou do afastamento.”

Henri Wallon, no livro “Do Ato ao Pensamento: Ensaio de Psicologia Comparada

Diferentemente do que o senso comum propaga, afetividade não é necessariamente sinônimo de intimidade, carinho e amor. Afetividade é, como o nome sugere, a capacidade do ser humano de afetar e ser afetado – tanto por fatores internos, como sentimentos de alegria, fome, raiva, quanto por fatores externos, como um objeto, uma informação ou o gesto e o olhar de outras pessoas. 

Todos os seres humanos nascem “programados” para estabelecer vínculos sociais, para se envolverem com outros seres humanos. Os dados e as pesquisas também confirmam isso. No artigo da UERGS, “Influência de um ambiente afetivo positivo em sala de aula sobre o estado motivacional de adolescentes do Ensino Médio“, as autoras investigaram se um ambiente afetivo positivo em sala de aula é capaz de influenciar na motivação em aprender dos estudantes. A pesquisa foi realizada com 836 adolescentes estudantes do Ensino Médio, de sete escolas públicas estaduais de Alegrete, município do Rio Grande do Sul. Os resultados mostraram que a aprendizagem afetiva pode ser determinante nesse processo:

“Como resultados obtidos constatamos que os alunos são perceptivos e são influenciados pelo estado de humor do professor e que ele afeta positiva ou negativamente na motivação dos alunos em aprender. Um professor amigo, conselheiro, interessado, sério em alguns momentos e brincalhão em outros momentos, com voz serena e chamativa, foram as características positivas levantadas pelos adolescentes do ensino médio para que se sintam motivados a aprender. Conclui-se que todas as condições que se fazem necessárias para transformar o espaço escolar num ambiente acolhedor, com princípios pedagógicos eficazes estão relacionadas com a afetividade e o trabalho docente.”

Fonte: https://downloads.editoracientifica.org/articles/210404102.pdf.

Por muito tempo, contudo, acreditou-se em um modelo de escola e de aprendizagem em que o conteúdo, a ordem e a hierarquia eram mais importantes do que a forma de se relacionar. “Mas, de que adianta um acesso invejável ao conteúdo se não fazemos ideia de como usá-lo no mundo? Como coloco todo esse ‘saber’ a serviço da humanidade se não sei me comunicar, me relacionar. Se não sei sentir? Do que adianta correr atrás de um conteúdo atrasado se estamos todos devastados. O que vamos realmente aprender?”, questiona a publicação da revista Educação, de Mariana Gonzalez e Tatiana F. Laganá.

A resposta, embora não seja uma fórmula pronta e que se desenvolve da noite para o dia, passa pela aprendizagem afetiva. “A aprendizagem afetiva conseguirá desconstruir a rotina dura e impessoal presente nas escolas, inserindo a comunidade escolar no processo de construção do saber”, pontuaram as autoras ao refletirem sobre os reflexos do contexto pós-pandemia na educação. “A aprendizagem afetiva potencializa e transforma o ambiente escolar. Ela ressignifica papéis e estruturas, lança olhares mais profundos e cuidadosos e promove maior integração, participação genuína e envolvimento. É a vez e a hora de rompermos com certas estruturas sufocantes. É a vez e a hora de arriscarmos. É a vez e a hora de praticarmos a afetividade”, concluem. 

1Rosane Antunes da Silva (UERGS), Sílvia Leticia dos Anjos Ventura (UERGS), Iara Kerch Soares (UERGS) e Adriana Barni Truccolo (UERGS).

3 dicas para promover uma aprendizagem afetiva em sala de aula 

Olhe para além do conteúdo: preste atenção nos estudantes

Trabalhar o olhar de enxergar verdadeiramente os estudantes é o fio condutor de uma aprendizagem afetiva. Mais do que garantir que você está trabalhando determinado conteúdo, avalie se os estudantes estão bem, se parecem interessados, se estão com facilidade ou dificuldade para absorvê-lo. Se há dificuldades, quais alternativas podem ser traçadas? 

Coloque o respeito em primeiro lugar

Praticar um olhar respeitoso e afetuoso, que leva em conta a individualidade de cada estudante, faz a diferença não só na relação entre aluno e professor, mas também na disposição do estudante em aprender. “Um tratamento respeitoso e afetuoso é imprescindível para a motivação dos alunos pelo conteúdo ministrado pelo professor. A motivação do aluno para aprender acontece muitas vezes como uma resposta a um comportamento do professor que se mostra cortês nas relações e interessado pelo aluno. Quanto mais frequentes forem esses comportamentos, mais consistentes e profundos serão os relacionamentos, promovendo uma aprendizagem significativa“, apontam as autoras da UERGS.

Jamais negligencie as competências socioemocionais

As habilidades socioemocionais são tão importantes para os estudantes quanto para os educadores. É o desenvolvimento de cada uma delas que coloca luz sobre a capacidade de ser empático, de se comunicar, de olhar para o outro com afetividade . “A relação entre professor e aluno depende, fundamentalmente, do clima estabelecido pelo professor, da relação empática com seus alunos, de sua capacidade de ouvir, refletir e discutir o nível de compreensão dos alunos e da criação das pontes entre o seu conhecimento e o deles”, indica a pesquisa da UERGS. 

E como você tem trabalhado a aprendizagem afetiva em sala de aula? Se você gostou deste conteúdo, também vai gostar de ler o post de Como desenvolver competências socioemocionais nos educadores.

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