
Você já ouviu falar em autodeterminação? O que é essa competência e como ela apoia o processo de aprendizagem dos estudantes? Como os professores podem atuar para desenvolvê-la de maneira mais efetiva? Descubra essas e outras respostas ao longo deste post. Acompanhe!
Desde muito cedo, estamos o tempo todo fazendo escolhas, mais ou menos complexas — quero este ou aquele sabor de picolé? Quero brincar com o brinquedo X ou com o brinquedo Y? Quero fazer este ou aquele curso? E, claro, o peso e as motivações dessas decisões se transformam completamente ao longo da vida — mas você sabia que o simples fato de fazer escolhas está diretamente ligado ao poder de autodeterminação?
Em linhas gerais, o conceito de autodeterminação consiste em ter a capacidade de sentir e decidir o que faz sentido em determinada situação. É uma abordagem que passa pela importância da motivação intrínseca e da autonomia, e desenvolvê-la nos estudantes desde cedo pode trazer reflexos positivos por toda a vida.
A Teoria da Autodeterminação foi elaborada em 1981 por Edward Deci e Richard Ryan, psicólogos e professores de psicologia norte-americanos. O artigo O estilo motivacional do professor e a motivação intrínseca dos estudantes: uma perspectiva da Teoria da Autodeterminação, de autoria de Sueli Édi Rufini Guimarães e de Evely Boruchovitch, explica melhor o conceito e como ele se relaciona com a educação e os espaços de aprendizagem. Veja:
“A Teoria da Autodeterminação foi proposta com o objetivo de compreender os componentes da motivação intrínseca e extrínseca e os fatores relacionados com a sua promoção. Nessa perspectiva, são abordadas a personalidade e a motivação humana, concentrando-se nas tendências evolutivas, nas necessidades psicológicas inatas e nas condições contextuais favoráveis à motivação, ao funcionamento social e ao bem estar pessoal. No contexto da pesquisa educacional, a motivação intrínseca tem sido relacionada ao envolvimento dos alunos com as tarefas de aprendizagem, pela preferência por desafios, persistência, esforço, uso de estratégias de aprendizagem, entre outros resultados positivos.
A base inicial para a Teoria da Autodeterminação é a concepção do ser humano como organismo ativo, dirigido para o crescimento, desenvolvimento integrado do sentido do self e para integração com as estruturas sociais. Nesse empenho evolutivo estaria incluída a busca de experiências com atividades interessantes para alcançar os objetivos de: a) desenvolver habilidades e exercitar capacidades; b) buscar e obter vínculos sociais; e c) obter um sentido unificado do self por meio da integração das experiências intrapsíquicas e interpessoais. Nessa perspectiva, consideram-se as ações autodeterminadas como essencialmente voluntárias e endossadas pessoalmente e, em contraposição, as ações controladas como resultado de pressões decorrentes de forças interpessoais ou intrapsíquicas.
Nesta perspectiva teórica, a atenção para as necessidades socioemocionais dos estudantes é essencial para a construção de um ambiente educacional potencialmente motivador, principalmente por parte de professores e administradores escolares.”
Fonte: https://www.scielo.br/j/prc/a/DwSBb6xK4RknMzkf5qqpZ6Q/?lang=pt#
Sueli e Evely indicam, ainda, as três necessidades psicológicas inatas que vêm de uma motivação intrínseca e estão propostas pela Teoria da Autodeterminação. São elas: a necessidade de autonomia, a necessidade de competência e a necessidade de pertencer ou estabelecer vínculos. “Em situações de aprendizagem escolar, as interações em sala de aula e na escola como um todo precisam ser fonte de satisfação dessas três necessidades psicológicas básicas para que a motivação intrínseca e as formas autodeterminadas de motivação extrínseca possam ocorrer. Nesse sentido, a figura do professor tem um papel essencial na promoção de um clima de sala de aula favorável ou não ao desenvolvimento dessas orientações motivacionais”, apontam as autoras.
Considerando a definição teórica e a conceituação do tema, como criar ambientes favoráveis para que os estudantes desenvolvam a autodeterminação? A seguir, separamos algumas dicas. Confira!
>> Confira aqui metodologias ativas que podem contribuir para autodeterminação
Motivar os estudantes em ambientes em que eles se sintam aceitos e apoiados contribui para o desenvolvimento de sua autoestima e senso de pertencimento — e, por consequência, de sua capacidade de fazer escolhas. Até mesmo mudanças simples no ambiente de aprendizagem, por exemplo, podem ter ótimos resultados.
Criar espaços em que os estudantes tenham voz e opção de escolha no processo de aprendizagem contribui para o senso de autodeterminação. Além disso, inseri-los nas decisões relacionadas ao ambiente escolar apoia o senso de pertencimento. Sempre que possível, inclua-os em decisões relacionadas ao ambiente escolar — como planejamento de eventos, escolha de atividades extracurriculares, desenvolvimento de políticas escolares e por aí vai.
Reconhecer as atividades dos estudantes é criar oportunidades para que experimentem o sucesso. Isso favorece o desenvolvimento do senso de competência e autoeficácia.
Além disso, fornecer um feedback específico, orientador e positivo ajuda os estudantes a entenderem as suas áreas de força e as oportunidades de crescimento, contribuindo para o desenvolvimento da autodeterminação. Mas vale a atenção: dar feedbacks não é exatamente simples e existem diferentes tipos e maneiras de fazê-lo — é preciso estudar a respeito. Aqui você tem acesso a algumas orientações práticas.
Inserir os interesses pessoais — sejam jogos, músicas, filmes, atores e atrizes, mundo pop etc. — na aprendizagem pode dar a ela um outro significado, tornando o processo mais relevante e motivador. Quando as atividades e práticas pedagógicas têm um propósito claro, uma relevância para a vida dos estudantes, eles são mais propensos a se envolver ativamente no processo.
Despertar a curiosidade dos estudantes e incentivar o questionamento é uma boa maneira de construir um desejo genuíno de aprendizado, estimulando que explorem os tópicos mais profundamente por conta própria. Isso faz parte também da experiência de aprendizagem — “aquilo que a pessoa vivencia, por meio dos sentidos, no processo de absorção de conhecimento e desenvolvimento de habilidades” —, influenciando o seu desempenho em termos de interesse, memorização e entendimento.
Quando os estudantes definem metas pessoais e acadêmicas, eles podem se sentir mais motivados e engajados no processo de aprendizagem, uma vez que têm um senso claro de propósito e direção em sua jornada.
Celebrar as conquistas dos estudantes, sejam grandes ou pequenas, faz a diferença no senso de competência e na construção de vínculos dos estudantes, além de reforçar sua motivação intrínseca.
Esse conteúdo foi útil para ajudar você a desenvolver a autodeterminação com os estudantes? Acompanhe o Blog do CER e confira outras dicas que vão apoiar a sua atuação no ambiente de aprendizagem!