Como o uso das ferramentas digitais pode potencializar a aprendizagem?

Blog Como o uso das ferramentas digitais pode potencializar a aprendizagem?

15/09/2023
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Você sabia que o filósofo Sócrates condenava a escrita como forma de pensamento humano? Muito do que se sabe sobre ele se deve aos escritos de Platão, um de seus discípulos, como aponta Eduardo Henrique Diniz, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Sócrates explicava que havia perigos embutidos no uso sistemático da escrita. Sócrates. Via em um texto escrito a materialização do pensamento do seu autor. Um pensamento materializado em um texto poderia viajar no espaço e no tempo, sem seu autor. E exatamente por essa razão é que o pensamento se torna perigoso”, afirma o professor. Mas o que isso tem a ver com como o uso das ferramentas digitais pode potencializar a aprendizagem? Acompanhe para entender melhor! 

É verdade que, por um lado, Sócrates tinha razão. Ele dizia que, ao ser lido distante do autor, um texto pode ser interpretado de maneira equivocada, sem nenhuma possibilidade de defesa. Por outra perspectiva, no entanto, a escrita – tecnologia que foi sendo aperfeiçoada, “das cavernas para o barro, pedra, papiro, papel, até chegar às telas de vidro de cristal líquido, comuns em smartphones” – se tornou uma ferramenta importantíssima e, como lembra Eduardo, acabou por se consolidar como um meio muito eficiente para armazenar, transmitir e transformar ideias e informações. 

A fala de Sócrates nos mostra que o desconforto da humanidade com o surgimento de novas tecnologias não é algo novo, inerente à nossa época. Da mesma forma que, na Antiguidade clássica, algumas pessoas olhavam para a escrita como ameaça; hoje, a opinião se divide sobre a adoção de ferramentas digitais na prática da sala de aula. Ao professor, por estar no epicentro desse processo, cabe desenvolver o olhar crítico sobre os aspectos positivos e negativos das ferramentas, uma vez que, assim como a escrita, a tecnologia digital veio para ficar. 

Isso está previsto até mesmo na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que chama a atenção para a importância de as próprias instituições escolares se adaptarem. Veja este trecho:

“Há que se considerar, ainda, que a cultura digital tem promovido mudanças sociais significativas nas sociedades contemporâneas. Em decorrência do avanço e da multiplicação das tecnologias de informação e comunicação e do crescente acesso a elas pela maior disponibilidade de computadores, telefones celulares, tablets e afins, os estudantes estão dinamicamente inseridos nessa cultura, não somente como consumidores. […] 

Todo esse quadro impõe à escola desafios ao cumprimento do seu papel em relação à formação das novas gerações. É importante que a instituição escolar preserve seu compromisso de estimular a reflexão e a análise aprofundada e contribua para o desenvolvimento, no estudante, de uma atitude crítica em relação ao conteúdo e à multiplicidade de ofertas midiáticas e digitais. Contudo, também é imprescindível que a escola compreenda e incorpore mais as novas linguagens e seus modos de funcionamento, desvendando possibilidades de comunicação (e também de manipulação), e que eduque para usos mais democráticos das tecnologias e para uma participação mais consciente na cultura digital. Ao aproveitar o potencial de comunicação do universo digital, a escola pode instituir novos modos de promover a aprendizagem, a interação e o compartilhamento de significados entre professores e estudantes. 

Fonte: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf.

Assim, precisamos olhar para o uso das ferramentas digitais na aprendizagem – quando utilizadas dentro de um projeto pedagógico – como aliadas valiosas no desenvolvimento dos estudantes.

Tecnologia como estratégia: como o uso das ferramentas digitais pode potencializar a aprendizagem

Não é novidade para ninguém que, atualmente, o letramento digital é uma necessidade – e é também responsabilidade das escolas formar estudantes que saibam lidar com a tecnologia. O uso da tecnologia e de diferentes ferramentas digitais possibilita novas formas de aprendizagens, afinal, e tem se tornado cada vez mais relevante e necessário; o Relatório de Monitoramento Global da Educação, da UNESCO confirma isso: 

“Avanços expressivos na tecnologia, especialmente na tecnologia digital, estão transformando rapidamente o mundo. As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) têm sido aplicadas à educação, há 100 anos, desde a popularização do rádio na década de 1920. Mas é o uso da tecnologia digital, ao longo dos últimos 40 anos, que tem o potencial mais significativo de transformar a educação. 

Nos últimos 20 anos, estudantes, educadores e instituições adotaram de forma ampla ferramentas de tecnologia digital. O número de estudantes em cursos online abertos massivos aumentou de 0, em 2012, para pelo menos 220 milhões em 2021. O aplicativo de aprendizagem de línguas Duolingo teve 20 milhões de usuários ativos diariamente em 2023, e a Wikipédia teve 244 milhões de visualizações por dia em 2021. O Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Programme for International Student Assessment – PISA) descobriu que 65% dos estudantes de 15 anos em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estavam em escolas cujos diretores entenderam que os professores possuíam as habilidades técnicas e pedagógicas necessárias para integrar aparelhos digitais à instrução e 54% em escolas onde uma plataforma eficiente de apoio online à aprendizagem estava disponível; acredita-se que esses números aumentaram durante a pandemia da COVID-19. Em todo o mundo, a porcentagem de usuários de internet aumentou de 16% em 2005 para 66% em 2022. Cerca de 50% das escolas de primeiro nível secundário estavam conectadas à internet com fins pedagógicos em 2022.”

Fonte: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000386147_por.

Tendo em vista esse cenário, como as ferramentas digitais podem, com intencionalidade pedagógica, de forma pensada e planejada, aprimorar o processo de aprendizagem? Confira a seguir. 

4 dicas de como fazer uso das ferramentas digitais para potencializar a aprendizagem 

A seguir, veja dicas práticas de como o uso das ferramentas digitais pode potencializar a aprendizagem.

Tenha em mente que a tecnologia é apenas um meio

Vale lembrar que as ferramentas digitais devem ser empregadas como meio, e não como fim. Como pontuou Fernanda Vernieri em bate-papo com o CER, “precisamos lembrar que a tecnologia é meio, e não fim, e se encontra em permanente evolução; por isso, é importante estar atento à forma como os indivíduos aprendem, por quais meios e quais suas limitações e também atentar para a sua acessibilidade”, afirma. 

Nesse sentido, utilizar as ferramentas digitais em suas diferentes formas – até mesmo como lugar de produção – é o melhor caminho para desenvolver aspectos que vão ajudar os estudantes a viverem em um mundo cada vez mais digitalizado, desenvolvendo a lógica do pensamento computacional e ampliando o repertório da cultura digital. O mais importante é que aprendam o “como”, e não necessariamente o “o quê”.

Um bom exemplo da força que as ferramentas digitais têm é o jogo Minecraft, que ganhou a versão “Minecraft for Education” exatamente pelo seu potencial como recurso pedagógico. A versão escolar inclui ferramentas adicionais que corroboram com a aprendizagem, como a possibilidade de os professores criarem mundos personalizados para os estudantes e terem recursos para avaliar o conhecimento deles. Os estudantes também têm a opção de trabalhar em equipe para completar tarefas e podem até mesmo aprender a programar no jogo. 

Utilize-as como mediadora do conhecimento

Mesmo que você não perceba, a tecnologia já funciona como uma mediadora do conhecimento – isso ocorre nas aulas on-line e em plataformas de ensino que viram extensão da sala de aula, por exemplo. Por que, então, não investir nisso? Estude e conte com recursos que podem ser ótimos aliados, como Canva, Google Sala de Aula, Microsoft Teams e outras ferramentas

Inove na forma de abordar o conteúdo 

Não é necessário abrir mão da forma já aplicada, mas por que não trazer novas opções para abordar o conteúdo? Recorrer a jogos e a plataformas de realidade aumentada pode ser uma boa pedida. O Graphmented, por exemplo, permite projetar documentos do Excel e fazer interação com os dados; o Sketchar, por sua vez, permite trabalhar a criatividade por meio de desenho, edição de fotos e gamificação.  

Coloque o estudante como protagonista 

Dispor dos recursos como apoio para o estudante ser protagonista do próprio desenvolvimento é mais uma dica de como o uso das ferramentas digitais pode potencializar a aprendizagem. Além de aplicá-las em diferentes metodologias ativas, como a Sala de Aula Invertida e o Design Thinking, recorrer ao BYOD (Bring Your Own Device, que pode ser traduzido como “Traga seu próprio dispositivo”) é outra boa forma de colocar isso em prática, em especial a partir do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio.

Desafie os estudantes

Que tal propor aos estudantes que criem jogos com conteúdos já passados, que desenvolvam aplicativos que solucionam problemas da comunidade, de acordo com o que ouviram em sala de aula? Veja algumas ferramentas que podem ajudar: 

Conte com apps e sites para propor interativas

Inovar no modelo de aula pode trazer engajamento e motivação por parte dos estudantes. Conheça e explore apps que certamente vão apoiar na criação de aulas interativas, além do Canva:

Dica: o Instituto Anísio Teixeira criou a “Tabela Periódica de Aplicativos e Ferramentas para Educadores”, que organiza as opções por demandas. Clique aqui para acessá-la. 

Importante! Vale alternar momentos digitais e analógicos no ambiente de aprendizagem, permitindo que os estudantes desenvolvam mais conexões neuronais. Sobre o tema,  fica uma dica de leitura: “O cérebro no mundo digital: os desafios da leitura na nossa era“, de Maryanne Wolf. 

Gostou de ficar por dentro de como o uso das ferramentas digitais pode potencializar a aprendizagem? Acompanhe o Portal CER e tenha acesso a conteúdos, ferramentas, entrevistas e também a dicas valiosas do mundo da educação.

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