Como trabalhar a adaptação diante o cenário de pandemia

Blog Como trabalhar a adaptação diante o cenário de pandemia

10/01/2022
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Quando tudo parece que não vai ter fim

Um ano de pandemia sob efeito dos decretos de isolamento e distanciamento social, já bem adaptado com o ensino remoto, esperançoso com a possibilidade de o imunizante chegar. Mas algo parecia que não estava indo bem. Dificuldade para me concentrar, picos de ansiedade seguidos de um desânimo, o que denominei “angústia”. Pensei que pudesse estar entrando em um quadro de depressão, logo descartado pelas características dos sintomas. Cogitei ser um estresse agudo, típico do Burnout, porém os sintomas não se enquadravam. A mesma “dor” também estava na narrativa dos meus pacientes dos atendimentos Psicológicos e de Coaching e nas conversas com meus colegas de trabalho e com amigos. Todos descreviam a mesma sensação que resolvi nominar “esvaziamento”, o que significa: “despejar, esgotar, verbo transitivo direto”.

“esvaziamento”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/esvaziamento [consultado em 29-4-2021].

 

Já adaptados com as rotinas de uso das máscaras, higienização, uso do álcool em gel, isolamento e distanciamento. Percebi, então, que fomos mais uma vez pegos despreparados para lidar com essa espera; o medo característico do início da pandemia parecia ter diminuído e dado lugar ao “esvaziamento”.

 

Na Psicologia temos um espectro para o mapeamento da saúde mental, que vai de quadro depressivo, com muita dor e perda do significado, a quadros de bem-estar total, com plena produtividade e adaptação. O “esvaziamento” foi entendido por mim como um estado intermediário dessa escalada. O quadro de “esvaziamento” se caracteriza pelo desânimo e pela sensação que não há mais o que fazer a não ser esperar. Com isso, aumentam as distrações, a perda do foco e consequentemente a diminuição da produtividade, uma vez que não se sabe o tempo da espera e já foi dada a carga total para a adaptação.

 

Para esclarecer a compreensão sobre a ansiedade, recorri às ideias do grande filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard: “Assim como um médico pode dizer que provavelmente não existe um único ser vivo que seja completamente saudável, então qualquer um que realmente conheça a humanidade poderia dizer que não existe um único ser humano que não abrigue secretamente uma inquietação, um conflito interno. Uma desarmonia, uma ansiedade sobre algo desconhecido ou algo que ele nem ousa tentar saber, uma ansiedade sobre alguma possibilidade na existência ou uma ansiedade sobre si mesmo […] uma ansiedade que ele não pode explicar. (Soren Kierkegaard, “O Desespero Humano – Doença até à Morte”).

O problema é que esse desconhecido está nos exigindo demais, levando-nos ao “esvaziamento”, consumindo nossa motivação, atrapalhando nossa capacidade de concentrar, despencando com a nossa produtividade. E, se não aprendermos a lidar com isso, seremos os deprimidos de amanhã.

 

Mas nem tudo está perdido, já que o ser humano possui brilhante capacidade de adaptação; todavia para isso precisamos aprender. No que concerne às Ciências Comportamentais, a estratégia mais produtiva para controlar as emoções é a de nomeá-las.

Ainda temos muito a aprender sobre esse “esvaziamento” e como proceder para curá-lo, mas se pode dizer que, ao nomeá-lo e fazer a distinção entre outros episódios de transtornos mentais, é um passo importante. E, segundo as definições do filósofo Soren Kierkegaard, não estamos sozinhos nessa. Então, se alguém lhe perguntar como você está, não se acanhe em dizer que ‘está se sentido vazio, e que isso não significa que está doente nem que está com dificuldade de ser grato(a) pela sua vida’. E talvez seus filhos estejam se sentido assim com as aulas on-line, bem como seus alunos, seus colegas. Isso atualmente tem um nome: “esvaziamento”.

 

Agora a pergunta é: o que podemos fazer neste tempo de espera para não “esvaziar”  demais?

 

A Psicologia Positiva, por meio do psicólogo Martin Seligman, no seu livro intitulado Florescer (2011), defende que são três os elementos que podem despertar a sensação de bem-estar e felicidade. Então, as dicas serão subsidiadas por esses elementos.

 

Vida prazerosa – Precisamos resgatar os pequenos prazeres e fazê-los sem culpa. Para aliviar esse tempo de espera, podemos realizar algo de que gostamos ou descobrir novos prazeres. Isso trará benefícios para você e seus familiares. Procure colocar na sua prioridade algo prazeroso.

 

Vida produtiva – Foco e Engajamento. Diante de tantas incertezas, é provável que muitos propósitos foram por água abaixo. Neste momento em que não temos como resgatar os “grandes propósitos”, procure criar os “pequenos propósitos” diários, semanais. Desafie sua mente diariamente, conectando-se a pequenas metas.

 

Vida com significado – Procure dar significado ao que está fazendo, mesmo que seja temporariamente. Busque ressignificar seus dias, suas atividades, seus relacionamentos. Assim, estar se conectando vai produzir segurança e sentido.

 

A dica de ouro é: busque estar mais tempo com experiências positivas, notícias, entretenimento, conversas, atividades. Isso você escolhe com uma atitude intencional consciente. Experiências desagradáveis o tempo todo só pioram a sensação do “esvaziamento”. Como diz um ditado chinês: “Procure fazer do limão uma limonada”.

 

João de Avelar Andrade

Psicólogo, mestre em Administração, Coach

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