O Brasil ainda enfrenta desafios relacionados à qualidade da educação e à preparação do aluno para o futuro. No entanto, há caminhos e perspectivas estimulantes. Um deles é a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O documento, que já está valendo em todo o país, propõe a elaboração do currículo escolar e do projeto pedagógico da escola com base em objetivos de aprendizagem.
Sua proposta é garantir um ensino mais integral, focado no desenvolvimento de 10 competências gerais: conhecimento; pensamentos científico, crítico e criativo; repertório cultural; comunicação; cultura digital; trabalho e projeto de vida; argumentação; autoconhecimento e autocuidado; empatia e cooperação; responsabilidade e cidadania.
As estratégias para garantir o desenvolvimento nesse contexto podem variar. Mas há um modo de garantir formação integral de crianças e jovens, que de alguma maneira incentive a apropriação de todas as 10 competências: o empreendedorismo.
A pedagoga, professora e escritora Priscila Boy explica que as 10 competências podem ser agrupadas em três eixos: as cognitivas, as comunicativas e as socioemocionais. “O ser humano é integral, não é fragmentado. Ele não é apenas cognição e aprendizagem, mas também comunicação, relacionamento e afeto. E o empreendedorismo é capaz de mobilizar esses três grandes eixos”, avalia.
A pedagoga defende que o ato de empreender exige pesquisa e conhecimento cultural visando garantir a formatação de soluções para problemas reais e que dialoguem com a comunidade. Já a comunicação e o conhecimento de múltiplas linguagens podem ser importantes para o estabelecimento de relacionamentos estratégicos. É necessário ainda fortalecer habilidades socioemocionais, como empatia, resiliência e autogestão, buscando garantir uma trajetória de vida transformadora.
No ambiente escolar, o empreendedorismo pode contribuir para estimular uma jornada voltada para o autoconhecimento de cada aluno. “O aluno precisa se conhecer, saber quais são suas vocações e percursos possíveis”, avalia a pedagoga. Nesse contexto, as ferramentas do empreendedorismo podem contribuir para que jovens aprendam a fazer a gestão da própria vida. O resultado são adultos mais resilientes e conscientes dos caminhos que devem trilhar a fim de alcançar seus objetivos.
O educador também deve estimular a autogestão, o autoconhecimento e o planejamento, além de dialogar em sala de aula sobre frustração e fracasso. É preciso incluir também estratégias que reforcem a importância da colaboração.
“O jovem deve aprender a olhar para cima, mas também a olhar para o outro. Deve compreender as demandas da sociedade, planificar e estruturar suas ideias e articular a mudança com outras pessoas. Ele precisa ser criativo e saber superar desafios”, comenta Priscila. Além de formar um jovem empreendedor, a estratégia contribui para fortalecer as competências gerais da BNCC.
Para que seja efetivo, um projeto de empreendedorismo na escola deve ser estruturado por meio de parcerias com outras instituições que tenham expertise na área. Dessa forma, a escola tem acesso à informação e a reflexões de qualidade, bem como a exemplos de projetos bem-sucedidos.
Uma boa forma de começar é conhecer de perto as iniciativas de outras instituições que saíram na frente e já possuem práticas alinhadas à BNCC e ao universo do empreendedorismo.
No entanto, caso o educador ou o gestor de educação viva em territórios onde essa estratégia não pode ser efetivada ou ele não tenha recursos para investir na área, a dica é: empreenda. “O professor pode pesquisar iniciativas e testá-las na escola, de uma maneira que dialogue com a realidade local. Ou seja, ele também precisa ter espírito empreendedor e se reinventar”, completa Priscila.
Durante a edição de 2019 da Bett Educar, o CER conversou com a consultora de educação Carolina Campos sobre as oportunidades que a BNCC traz para o ensino empreendedor e a educação como um todo. Confira:
Os professores do ensino médio podem aproveitar uma novidade da BNCC para tirar sua ideia do papel: o documento homologado pelo Ministério da Educação inclui o empreendedorismo como um dos eixos estruturantes dos itinerários formativos, que são as atividades eletivas. Para saber mais do desafio da elaboração dos currículos formativos valendo-se da BNCC, confira a entrevista que fizemos com Guiomar Namo de Mello sobre o assunto.