Educação inclusiva: como prever e executar com base no Planejamento Pedagógico?

Blog Educação inclusiva: como prever e executar com base no Planejamento Pedagógico?

15/03/2022
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Quando falamos em educação inclusiva, precisamos pensar em todo o caminho que precede a sala de aula – e ele vai desde a teorização do projeto político-pedagógico à execução de cada uma das atividades previstas.
Afinal, uma educação verdadeiramente inclusiva extrapola os muros da escola. Então, como criar e manter um planejamento contínuo, colaborativo e que atenda à diversidade de todos os membros?
Para responder a essa e a outras questões, conversamos com o professor e advogado Eduardo Vieira Mesquita, presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Estadual de Educação de Goiás (CEE/GO). Além de apontar caminhos, ele elucidou pontos que podem guiar a construção e o sucesso de um Planejamento Inclusivo. Confira!

1. É primordial trabalharmos com um planejamento contínuo e colaborativo que atenda aos interesses e às necessidades de cada estudante e os valorize. Qual importância você vê nesse modelo inclusivo?

Ao destacarmos a importância do planejamento contínuo e colaborativo, estamos nos referindo a uma gestão escolar descentralizada, horizontal e com espaços para participação de toda a comunidade escolar na construção do Plano de Ação da escola. Uma construção com a participação de docentes e não docentes, das famílias e inclusive dos alunos como protagonistas do próprio processo de ensino-aprendizagem.
O planejamento é contínuo a partir do momento que ele é revisto continuamente, sempre considerando a configuração, os desafios e a potencialidade apresentada por cada estudante – que não são homogêneos.
Esta é a visão de um planejamento inclusivo: flexível, dinâmico, não linear, com estratégias diversificadas e baseado nas habilidades e necessidades de cada um. É o caminho que possibilita a participação efetiva e com igualdade de oportunidades para o pleno desenvolvimento de todos os alunos, com e sem deficiência.

2. Quais são as principais etapas de um bom Planejamento Pedagógico Inclusivo? Há um “guia prático” de como elaborar cada uma delas?

Um bom Planejamento Pedagógico, para ser inclusivo, tem como premissa considerar a singularidade dos estudantes aos quais o planejamento se destina. Em se tratando de Pessoas com Deficiência (PcD), por exemplo, as particularidades intelectuais, sensoriais e físicas são muito diversas. É fundamental avaliar cada situação, cada caso, a fim de encontrar meios de garantir a inclusão de todos.
De maneira geral, para uma elaboração adequada e inclusiva de um planejamento, é muito importante prever os seguintes passos:
  • Identificar previamente as necessidades e as demandas – ouvindo e dialogando com todos os envolvidos no processo.
  • Definir e ordenar, de forma clara, os objetivos que se pretende alcançar.
  • Estruturar as ações de forma objetiva, executável e funcional.

3. Quais são (ou deveriam ser) os principais atores envolvidos em um Planejamento Pedagógico Inclusivo?

Eu diria que os principais atores são as pessoas que desejam o sucesso do estudante no sistema educacional inclusivo. Aqui eu destaco o próprio aluno, que precisa ser visto como sujeito de direitos e ativo nesse processo; a família, ponto fundamental de referência do estudante e o que guarda a maior fonte de informações sobre o estudante (e, em grande parte, é o apoio em seu percurso escolar); os docentes e toda a equipe ou comunidade escolar.

4. Se pudesse dar dicas para elaborar esse planejamento, quais seriam as suas propostas de articulação para o grupo responsável pelo documento?

Entendendo que o planejamento é o guia orientador para todas as ações no processo de ensino-aprendizagem, mais do que qualquer dica para a sua elaboração, destaco aqui a extrema importância de o grupo responsável pelo planejamento – em especial os docentes e a equipe da escola – fazer uma revisão em seus conceitos sobre a inclusão.
Um dos princípios da educação inclusiva é o de que toda pessoa pode aprender. Se há uma visão depreciativa das pessoas que aprendem com dificuldade ou que aprendem de forma diferente dos demais, haverá uma interferência nas relações entre educador e educando, prejudicando os resultados de qualquer trabalho. É fundamental acreditar que o outro pode aprender, porque só assim podemos ensiná-lo.
Essa visão no momento de elaborar o planejamento e colocá-lo em prática é imprescindível para o efetivo desenvolvimento das atividades e, claro, para o sucesso no processo de ensino-aprendizagem.

5. Você entende que o trabalho coletivo é importante para um resultado efetivo desse planejamento? Por quê?

Sim, o trabalho coletivo e colaborativo é extremamente importante. É esse modelo de trabalho que amplia a formação de ideias com diferentes perspectivas e experiências e aumenta a comunicação e a confiança entre os membros da equipe.
No trabalho coletivo, é possível visualizar as habilidades e os conhecimentos dos colegas, e, sem dúvida, isso abre espaço para o desenvolvimento pessoal. Esse conjunto reflete positivamente nos resultados e nas etapas de qualquer planejamento – desde a construção ao êxito das atividades.

6. Quanto aos estudantes, como você acha que eles conseguem perceber – ainda que indiretamente – o sucesso desse planejamento?

Se o Planejamento Pedagógico tem a abordagem contínua e colaborativa, o estudante é também protagonista. Isso é percebido dando a ele o sentimento de pertencimento.
Todos nós temos a necessidade iminente de nos sentirmos úteis e participantes nos processos em que estamos envolvidos. Essa é a verdadeira inclusão: a pessoa sentir que faz parte, que suas diferenças são consideradas e aceitas pelo grupo.
Tal percepção por parte do estudante é evidenciada pela sua alegria de estar presente no ambiente escolar, quando podemos notar que os olhos brilham quando eles olham para o uniforme da escola.
À medida que se desenvolve – ganhando mais autonomia, dominando conceitos –, o estudante se sente empoderado e manifesta isso na qualidade de sua produtividade, na confiança em se arriscar diante do novo, na busca incessante por novos aprendizados.
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