Mentalidade Matemática: como desenvolver as habilidades dos estudantes

Blog Mentalidade Matemática: como desenvolver as habilidades dos estudantes

15/03/2022
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Aprender matemática é um dom reservado a apenas uma parcela das pessoas? Somente os estudantes mais inteligentes conseguem compreender a matemática e seus números, fórmulas, equações, gráficos e tabelas? Existem cérebros que “foram feitos sob medida” para aprender matemática e outros não?
Quem dedica sua vida à área de Educação certamente já foi questionado por pais, ou mesmo por alunos, sobre os motivos de fulano ou beltrano não conseguir ter bom desempenho em matemática e disciplinas relacionadas, tendo dificuldade em acompanhar as aulas e assimilar a matéria.
Diversos pesquisadores que se debruçam sobre os estudos de neurociência concluíram que a existência de “cérebros matemáticos por natureza” é um mito, uma vez que a mente humana possui uma característica de plasticidade bastante evoluída.
Isso significa que, quanto mais o cérebro é usado e testado, mais conexões neurais são formadas, aumentando sua capacidade cognitiva e de aprendizagem.
A professora e neurocientista Jo Boaler, da Universidade de Stanford (Estados Unidos), contesta em seu livro “Mentalidades Matemáticas – Estimulando o Potencial dos Estudantes por Meio da Matemática Criativa, das Mensagens Inspiradoras e do Ensino Inovador” (Editora Penso) a ideia equivocada que se formou nas últimas décadas de que matemática não é para todos.
Ao contrário, ela argumenta, por meio de evidências consistentes e embasadas em pesquisas realizadas no campo da neurociência voltada à educação, que a matemática está ao alcance de qualquer indivíduo. Basta que seja apresentada de maneira adequada e estimulante. Assim, vai despertar o interesse – e até mesmo a paixão – por parte dos estudantes.

As chaves que abrem a Mentalidade Matemática

Ao longo de vários anos, Jo Boaler tem trabalhado com outros professores as estruturas pedagógicas que considera ideais para que uma metodologia consistente de ensinar matemática, dentro de uma perspectiva de educação inovadora, seja desenvolvida e disseminada entre os colegas nas salas de aula.
Dessa forma, os educadores tornam-se aptos a criar em cada estudante o que ela chama de “mentalidade de crescimento”, na qual o cérebro tem potencializado suas habilidades de raciocínio por meio do aumento de sua capacidade neural.
O método de ensino desenvolvido pela especialista – descrito em detalhes em seu livro – apoia-se em uma estrutura que ela chama de “Seis Chaves”, cujos conceitos principais vamos conferir a seguir:

1. Crescimento do cérebro

O cérebro é um órgão que está em permanente processo de crescimento, o que invalida de imediato a falsa percepção de que algumas pessoas possuem uma mente matemática, enquanto outras não.
A cada lição aprendida, o cérebro cria outras conexões neurais ou fortalece aquelas existentes. Jo Boaler explica que é dessa forma que a Mentalidade Matemática nasce e continua a se desenvolver no decorrer da vida.

2. Mentalidade voltada ao desenvolvimento

Os educadores devem alertar os estudantes a respeito dos males que ideias preconcebidas a respeito de si próprios podem causar, visto que elas atuam como sabotadores internos, restringindo seu potencial de crescimento.
Para isso, ela cita a professora de Psicologia Carol Dweck, também de Stanford, cujas pesquisas revelam, por meio de exemplos, o poder que as crenças pessoais têm sobre os rumos individuais..
Assim, é importante incentivar os alunos a cultivar o gosto pelo constante desenvolvimento pessoal, a fim de acreditarem que podem aprender aquilo que desejarem, não se deixando contaminar por rótulos como “matemática é um dom para poucos”.

3. Valorização do esforço e dos erros cometidos

Cometer erros é uma parte fundamental do processo de aprendizado. Por essa razão, os alunos devem ser estimulados a não se abaterem quando errarem.
Ao contrário, é importante que os professores valorizem não os erros em si, mas o esforço empreendido pelos estudantes para corrigir sua linha de raciocínio e, assim, visualizar as respostas corretas.
Errar, identificar o erro e caminhar em direção ao acerto é o processo que melhor promove o desenvolvimento do cérebro e suas conexões neurais, especialmente quando o foco é a Mentalidade Matemática.

4. Multiplicidade neural

A quarta chave do método descrito pela especialista é a multiplicidade, entendida como a capacidade do cérebro em enxergar um determinado problema matemático sob diferentes perspectivas.
Ela lança mão de estudos realizados por neurocientistas da Universidade de Stanford para explicar que, quando se estuda matemática, cinco áreas do sistema nervoso são ativadas, das quais duas atuam a partir de estímulos visuais.
O aluno que consegue dar formato visual a um problema que lhe foi apresentado, ainda que essa imagem seja apenas mental, está construindo caminhos neurais fundamentais para o desenvolvimento do pensamento.
Dessa forma, estará conectando diferentes regiões do cérebro e potencializando sua capacidade de raciocinar de forma lógica e abstrata.
É o que se vê, por exemplo, em termos de Matemática Financeira. Os estudantes passam a ter uma compreensão mais abrangente desse universo, criando as bases para que a Educação e a Cultura Empreendedora se desenvolvam de maneira mais natural e assertiva.

5. Flexibilidade no raciocínio

Uma das críticas de Jo Boaler aos métodos convencionais de ensinar matemática está no fato de que o raciocínio dos alunos acaba sendo “engessado”, reduzindo sua capacidade criativa de encontrar soluções.
A falta de flexibilidade é ilustrada em um exemplo simples, mas que revela a extensão do problema. Quando são indagadas sobre o resultado da multiplicação “18 x 5”, a maioria dos alunos trava e não consegue dar a solução, a não ser que jogue a conta para o papel.
Poucos usam recursos mentais que facilitem o raciocínio por meio de operações mais simples. Por exemplo: “multiplicar 20 por 5 e depois subtrair 10, para chegar ao resultado de 90”. Essa forma de pensar somente se dá quando a Mentalidade Matemática já se encontra em um processo de desenvolvimento.
Ela ressalta, no entanto, que sua metodologia não pretende transformar alunos em “computadores”, apenas permitir que seu pensamento ganhe maior flexibilidade, abordando os problemas com base em diferentes perspectivas.

6. Atitude colaborativa

A especialista ressalta, finalmente, a importância da troca de ideias entre os estudantes para que o aprendizado da disciplina, assim como a formação e o desenvolvimento da Mentalidade Matemática ocorra de maneira mais satisfatória.
Experimentos realizados em Stanford mostraram que, ao estimular o debate sobre problemas matemáticos em situações como atividades conjuntas entre os alunos em sala de aula ou em uma prova colaborativa, os resultados alcançados foram bastante superiores do que quando os estudantes foram submetidos a atividades ou exames individuais.

Youcubed: plataforma digital focada em Mentalidade Matemática

A metodologia de formação de Mentalidades Matemáticas pode ser acompanhada de perto e na prática por meio da plataforma digital Youcubed, desenvolvida na Universidade de Stanford pelas professoras Jo Boaler e Cathy Williams.
O Instituto Sidarta é o responsável pelo Youcubed no Brasil, tendo feito a tradução para o português e disponibilizando seu conteúdo gratuitamente a professores e a estudantes.
A plataforma Youcubed traz aulas, vídeos, artigos e uma série de atividades em que é possível vivenciar as principais questões relacionadas à metodologia, como mentalidade de crescimento, senso numérico, liberdade matemática e aspectos de neurociência, dentre outras.
Gostou deste artigo? Para saber muito mais sobre o universo da Educação Empreendedora visite o portal do CER Sebrae, criado para educadores que desejam sempre se inspirar e aprender cada vez mais!
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