Conheça o método FALEM: uma Fábrica-Escola com ensino baseado em projetos

Blog Conheça o método FALEM: uma Fábrica-Escola com ensino baseado em projetos

16/06/2021
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Na esteira das novas tecnologias e das novas metodologias que estão mudando o cenário da Educação no mundo, começam a surgir propostas de ensino alternativas, capitaneadas por escolas que acreditam em um ensino orientado para o desenvolvimento humano.
Nessa perspectiva, entrevistamos Denise da Costa e Vitor Pissaia, diretores na Fábrica Escola de Humanidades, para conhecer a metodologia Falem aplicada na escola.
Acompanhe conosco o que ela nos contou.
1) Por que o nome Fábrica–Escola de Humanidades?
A Fábrica–Escola de Humanidades é um sonho gestado e vivido há sete anos dentro da Associação de Ensino de Arquitetura e Urbanismo Escola da Cidade, associação sem fins lucrativos, aprovada em 1996 nas Diretrizes e Bases da Educação. O nome Fábrica–Escola é uma homenagem ao arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, nosso mestre, patrono da primeira turma da graduação e querido amigo, que aperfeiçoou a tecnologia de peças pré-fabricadas em argamassa armada nos seus trabalhos.
Com uma visão humanista da sociedade brasileira, pensando sempre em garantir uma condição digna aos trabalhadores da construção civil e um uso racional dos materiais, Lelé contribuiu para a construção de escolas, hospitais, elementos de infraestrutura em áreas sensíveis da cidade a partir das fábricas, projetadas e operadas por ele, que eram instaladas próximas aos locais dos projetos.
A fábrica aqui também é uma lembrança do SESC Fábrica, projetada pela arquiteta Lina Bo Bardi, em que educação, cultura e esporte são indissociáveis.
2) Quais as bases da metodologia do Sistema Falem e por que ele foi criado?
O sistema FALEM é composto de cinco eixos: Filosofia, Arte, Literatura, Ecologia e Música. Em cada um desses eixos, os alunos desenvolvem projetos sugeridos pela fábrica e nela dão forma ao que aprendem em sala de aula.
Cada eixo ocupa um dia da semana na parte da manhã, oportunidade em que três ou quatro professores de diferentes disciplinas mediam o trabalho dos alunos e dão aulas conforme a necessidade das discussões levantadas.
Assim, em vez de ensinar ao aluno as competências seguindo um cronograma rígido, o ensino se dá por meio das trocas necessárias para se desenvolver os projetos, e esses são apresentadas conforme a necessidade dos alunos. Entendemos que é muito diferente para eles aprenderem noções de hidrostática, de marcenaria, de botânica pela confecção de um modelo de barco do que exclusivamente para passar no vestibular.
3) Quais os resultados que vocês vêm obtendo com a metodologia?
Ainda é cedo para avaliar. Começamos a primeira turma em 2020. Tivemos três semanas de aula presencial, e veio a pandemia. Mais da metade dos nossos alunos têm bolsa integral ou parcial. Nesse contexto, o primeiro semestre do ano foi o de montar uma infraestrutura mínima para aulas a distância; fornecer computadores àqueles que possuíam somente celular para acessar a internet ou que dividiam o acesso com familiares; encontrar ferramentas digitais que permitissem o desenvolvimento de aulas síncronas; comprar material de desenho e tudo o mais que você conseguir imaginar.
Do segundo semestre até agora – e aqui podemos falar dos resultados parciais –, temos uma versão de nossa metodologia adaptada ao ensino remoto.
Para nós, uma escola de ensino médio e técnico recém-começada e que não investiu em publicidade, o maior resultado foi termos duas turmas iniciadas em 2021.
Isso se deve totalmente às parcerias que fechamos a fim de conseguirmos bolsas aos nossos alunos, aos parceiros que indicaram alunos em situação de fragilidade e às próprias famílias que falavam acerca de nossa metodologia a amigos e conhecidos. É curioso imaginar que muitos desses relatos feitos pelos familiares são de primeira mão, porque eles estão acompanhando nossas aulas dada a condição do ensino remoto.
Outro ponto a se levantar é que nossas aulas começam às nove horas da manhã e se estendem até ao meio-dia, trabalhando sobre um único assunto, sem troca de professores. Isso tem resultado em alunos mais dispostos, mais concentrados e com a possibilidade de complexificar as aulas pelo olhar de diferentes disciplinas. Todas as tarefas são executadas durante esse período ou durante o tempo livre, que vai do meio-dia à 1 hora da tarde, garantindo ao aluno um tempo para se organizar e não invadir espaços para além do que ele está comprometido conosco.
4) Existe uma relação com outras metodologias, como, por exemplo, Ensino Híbrido ou Educação Empreendedora?
De alguma forma sim, porque a base do Ensino por Projeto é a autonomia do aluno, isto é, são eles que fomentam e desenvolvem o próprio ensino. Claro que isso tem de estar acompanhado de um aprendizado do aprender, o que permite ao aluno acessar criticamente conteúdos que nós não oferecemos ou mesmo que não imaginamos. O Ensino por Projeto é uma metodologia comum no ensino de Arquitetura e Urbanismo desde pelo menos o início do século passado. Hoje ele está presente em faculdades de Medicina, Administração e na própria educação infantil. Não é coincidência que essa escola de ensino médio e técnico nasceu dentro de uma Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
O projeto – de edificações, de moda, de peças gráficas – é uma forma de produzir sínteses entre as informações adquiridas em diferentes áreas, da elaboração de objetos e da sua socialização. Nenhum projeto é feito de forma autônoma, já que ele nasce daquilo que é possível, do que foi acumulado, ou seja, das memórias que compartilhamos.
5) Como a Fábrica-Escola está se preparando para o futuro tecnológico que nos espera?
Podemos aqui pensar que uma das disciplinas que compõem nossos eixos é a Ciência da Computação. Nas turmas de primeiros anos, neste momento, ela está em diálogo com a Filosofia e a Matemática construindo um léxico de palavras através de uma base de dados compartilhada. Nesta turma de segundo ano, ela se encontra no eixo Artes, buscando expressões artísticas e químicas do tema do semestre que é a “água”, reinterpretando quadros de artistas como o William Turner, por meio de desenhos formulados pelos algoritmos que eles desenham.
Quando pudermos voltar ao ensino presencial, poderemos alinhar os projetos desenhados à construção de protótipos feitos pelos alunos no galpão que equipamos com o apoio de nossos parceiros. Lá eles terão acesso a equipamentos seguros de marcenaria, serralheria, argamassa armada e de prototipação digital, todos materiais utilizados pelo Lelé nas suas fábricas.
Para além disso, pensamos que o futuro tecnológico, cada vez mais, é imprevisível e mutante. Hoje estamos pensando em estruturas leves, pré-fabricadas, que sejam somente montadas no local. Sobre o amanhã, é uma incógnita. Dessa maneira, a tecnologia com menor defasagem e na qual apostamos é a capacidade humana de elaborar objetos físicos ou não, que respondam ao seu tempo e lugar, com o intuito de construirmos uma sociedade mais justa e digna para todos.
Gostou da entrevista? Assim como o sistema FALEM existem outras metodologias com aprendizagem centralizada no estudante que promete revolucionar a educação nos próximos anos. Confira nesse artigo algumas dessas tendências.
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