Pedagogia da resiliência: o que é como desenvolver

Blog Pedagogia da resiliência: o que é como desenvolver

23/02/2022
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Resiliência é um conceito que existe há muito tempo, mas muitas pessoas começaram a conhecê-lo depois da pandemia. A palavra que, na verdade, nasceu da Física, vem sendo cada vez mais empregada quando o assunto é saúde mental. E, no campo pedagógico, existe uma forma de aplicá-la? Vamos entender melhor o que é a Pedagogia da resiliência. 
Antes de aprofundar na proposta de resiliência pedagógica, vale dar alguns passos atrás e captar a essência da palavra. Uma matéria publicada na revista Forbes explica bem o tema.
“Resiliência, na física, é a propriedade que alguns corpos têm e que os fazem ser capazes de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação. Aplicada à saúde mental, poderíamos dizer que resiliência é a capacidade que alguns de nós têm – ou constroem – de nos tornarmos maleáveis ao ponto de não nos deixarmos quebrar […] Pesquisadores vêm estudando a resiliência humana há um bom tempo. A ciência tem proposto que ela é ditada por uma combinação de história pessoal, ambiente e contexto.”

A resiliência na pedagogia

Já parou para pensar que a educação é uma área que exige resiliência quase o tempo todo? Quando entramos em uma nova escola, quando nos deparamos com uma nova turma, quando precisamos nos adaptar a uma nova cultura organizacional, e por aí vai.
Quando olhamos sob a perspectiva do aluno e do seu processo de aprendizagem, temos reflexões importantes, levantadas no artigo “Educação escolar e resiliência: política de educação e a prática docente em meios adversos”. Vejamos:
“[…] a escola é o meio fundamental e essencial para que as crianças, na sala de aula, adquiram as competências necessárias para ter sucesso na vida, por meio da superação das adversidades. Portanto, saber lidar com as formas de promover a resiliência é a chave para a educação cumprir objetivos fundamentais, tais como formar pessoas livres e indivíduos responsáveis. Sobretudo nos casos de ausência de laços afetivos familiares fortes e de sistemas de suporte social, cabe à escola um papel fundamental na educação para a resiliência […])”

Os passos para aplicar a resiliência na escola e os benefícios de colocar o conceito em prática

O artigo citado no parágrafo anterior sugere um exercício importante, de o professor assumir a responsabilidade de instigar as curiosidades e ajudar no papel de autoconhecimento dos estudantes. Para isso, é fundamental que ele mesmo tenha a capacidade “de se libertar dos trilhos que construíram suas representações de escola e de educação”. O mesmo material destaca, fazendo referência aos autores e estudiosos Nan Henderson e Mike Milstein, os passos que podem estimular o desenvolvimento de características resilientes em docentes e ainda os benefícios da promoção da resiliência no mundo da educação. Vamos conferir!
6 passos que podem estimular as habilidades de resiliência de um educador
  1. Enriquecer os vínculos.
  2. Estabelecer limites claros e fortes.
  3. Ensinar habilidades para toda a vida.
  4. Proporcionar afeto e apoio.
  5. Estabelecer e transmitir expectativas elevadas.
  6. Proporcionar oportunidades de participação significativa.
Segundo os autores, a combinação de todos esses tópicos pode resultar em maior apego à instituição escolar e, a partir daí, um senso de compromisso social melhor e uma concepção mais positiva de si – tanto para os alunos e os pais como para os docentes.
Os benefícios da resiliência pedagógica, segundo os especialistas
  • O estabelecimento de vínculos de sociabilidade, atitudes e comportamentos positivos entre professores e alunos, evitando o isolamento social, que poderia gerar violência e discriminação.
  • O fortalecimento de uma estratégia essencial diante da rapidez com que surgem as informações, dos avanços tecnológicos, das mudanças sociais e do estresse que atestam as necessidades e as dificuldades da vida moderna, exigindo do docente um desenvolvimento profissional para responder aos variados e crescentes desafios que enfrentam.
  • Uma posição favorável do professor para identificar e ajudar os alunos a enfrentar problemas e dificuldades, evitando consequências prejudiciais à saúde e ao bom desempenho na escola.
  • Criar meios de fortalecer a saúde dos estudantes e dos professores, desenvolvendo o lado positivo de seu desempenho e a sua proteção.
  • Criar estratégias a fim de valorizar uma atuação dialógica e de negociação de conflitos, o que é altamente significativo em relação à prevenção da violência interpessoal.

E a resignação inteligente, o que tem a ver com isso?

A resiliência pedagógica pode dar vida a vários frutos, mas é importante aliá-la à resignação inteligente. Isso pode parecer estranho porque o conceito de “resignação” traz a ideia de uma “aceitação” ou uma “submissão” ao desejo e à vontade de outras pessoas, mas é possível encará-la de diferentes formas.
Em um depoimento sobre o limite da resiliência, o renomado filósofo e educador Mario Sergio Cortella diz que a resignação pode ser feita com serenidade ou com desespero. Veja que interessante:
“A resignação pode ser feita com serenidade ou com desespero. Eu posso me resignar de algo e estou ali conformado e triste porque tive que me conformar. Mas há uma resignação que se dá com inteligência: quando você percebe que aquilo que você está enfrentando não será vencido […] Quando você tem uma percepção da impossibilidade, aí você precisa ter uma resignação inteligente. Agora, quando você sabe que algo terá, em alguma ocasião, a chance de dar certo, vai firme.”
Então, vale o alerta: de acordo com Rafael Gregório, analista de Educação Empreendedora do Sebrae, a resiliência, por si só, pode gerar uma sensação (falsa) de resolução de um problema, o que negligencia a necessidade de trabalhar as tensões de ordem subjetiva e objetiva. Portanto, superar um problema ou um desafio coletivo não se dá por completo apenas a partir de uma superação individual – isso, aliás, se torna um desafio para a aprendizagem e para a pedagogia.
O caminho, com base nessa reflexão, é sempre trabalhar uma visão crítica em cada uma das situações, que inevitavelmente exigem posturas diferentes. É aí que a resiliência pedagógica – ou a resignação inteligente – cumprirá devidamente o seu papel.
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