Depressão e prevenção ao suicídio sem tabu na Educação

Blog Depressão e prevenção ao suicídio sem tabu na Educação

16/10/2020
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Por muitos anos, falar sobre depressão e suicídio era um tabu no Brasil. Ainda hoje, abordar o tema é delicado, embora campanhas como a “Setembro Amarelo” venham ajudando a abrir os assuntos para o debate público, aumentando a conscientização em relação aos cuidados com a saúde mental.
Na Educação, abordar esses tópicos também é fundamental. É na juventude que muitos dos primeiros sintomas de depressão aparecem, e a escola, como um dos principais locais de socialização dos jovens, tem muito a contribuir. Para falar mais sobre o assunto, conversamos com Luzia Xavier Batista, psicóloga da Escola de Formação Gerencial do Sebrae em Belo Horizonte (EFG-BH). Confira a entrevista a seguir.

1) Como falar de depressão e suicídio com os jovens?

A escola tem de ter um Programa de Saúde Mental, porque não adianta falar só de um determinado tema em uma determinada época. Digamos que seja uma escola opressora, ou seja, que não tem diálogo com o estudante, que faz uma campanha de prevenção só em setembro. Se o aluno não se sente acolhido pela escola, isso não funciona.
A escola deve fazer um trabalho constante de acolhimento, de presença com os estudantes, de abertura para o diálogo, demonstrando preocupação com sua vida. Aí, sim, a instituição estará preparada para falar sobre esses temas.

2 ) Quais são alguns sinais na sala de aula que devem alertar os professores em relação à saúde mental dos estudantes? E nas aulas on-line?

É uma mudança de comportamento. E é uma mudança brusca. É como se aquele estudante tivesse um determinado tipo de comportamento e passasse a agir ao contrário. Se ele era muito comunicativo, passa a ficar apático ou mais calado; se era mais tranquilo no trato, torna-se agressivo. Como se o oposto do seu comportamento habitual se fizesse presente. Esse é um dos sinais.
Mas algumas vezes tal comportamento está instaurado. Às vezes ele já é um estudante com algum tipo de dificuldade, com um olhar mais triste, vazio, como se estivesse ‘viajando’ sempre – expressão muito usada pelos professores, como se só estivesse presente ali com o corpo. Além disso, um estudante alegre pode demonstrar algum sinal. Vai depender do contexto de cada estudante. Quando a gente fala de saúde mental, as possibilidades são muito amplas. Por isso é importante pensar nos extremos do comportamento.
Já durante as aulas on-line, é muito complicado. Nem sempre o uso das câmeras é obrigatório em todas as escolas, então o contato entre o professor e o jovem diminui bastante. Em virtude disso, os aspectos que o professor deve monitorar é se o estudante está entregando as atividades, se tem comparecido às aulas, se tem interagido. Isso, considerando as aulas on-line em que exista uma aula ao vivo, porque muitas escolas não têm esse tipo de aula.
Se o estudante sumiu, é importante tentar entender o porquê.

3) Como incluir a família? Em que momento ela deve ser acionada?

Aqui em Minas Gerais, temos uma orientação que diz que, quando o estudante passa a se cortar (automutilação), o diretor da escola deve imediatamente acionar o Conselho Tutelar. Se não, o estabelecimento educacional pode ser acionado como conivente com a situação.
Se isso está acontecendo, o primeiro passo é chamar o estudante, conversar, criar um vínculo com ele e comunicar a ele que a família será acionada. Lembrando que, ao se tratar isso apenas como sintoma, é mais difícil. Por isso, a escola deve realizar um trabalho contínuo e conhecer quem são os pais.
Digamos que a situação familiar é de uma mãe alcoolista ou de um pai ausente, por exemplo, como marcar uma reunião com esses pais? É preciso haver um acompanhamento. Em algumas situações, falar com a família pode até piorar.
Conhecer as famílias é um investimento que a escola precisa fazer. Investimento de pessoas, de tempo, de abertura para o diálogo.

4) Quais são algumas recomendações para que os alunos se mantenham bem?

Ter uma vida equilibrada: praticar exercícios físicos, tomar sol e estar ao ar livre – já que ambientes escuros e fechados tendem a ser melancólicos –, ter uma alimentação saudável, ter hobbies e relacionamentos. Como o jovem vai cuidar da saúde mental ou buscar apoio se não está com alguém?

5) Quais tipos de consequências para a saúde mental as escolas podem esperar no pós-pandemia? E como deve ser a transição para as aulas presenciais, considerando os desafios vividos durante o período de aulas remotas?

Os estudantes estão com uma energia contida. As festas e os encontros foram reduzidos a zero. Então, acho que as reações de afeto serão mais exacerbadas.
Além disso, o jovem tem o costume de ser mais imediatista, de não pensar muito em longo prazo. Por essa razão, existe uma possibilidade de que o jovem tenha ainda mais dificuldade de fazer planos para o futuro e queira curtir a vida ao máximo, recuperar o tempo perdido –- aí entra também a questão do abuso do álcool.
Gostou da entrevista com Luzia? Para continuar lendo mais sobre o tema da Saúde Mental, te convidamos a ler também a entrevista com Marisa Castanho, que fala especificamente sobre “Os Desafios da Saúde Mental durante a Pandemia”
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