Educação maker: construção de comunidade e da mentalidade ‘façamos-nós-mesmos’

Blog Educação maker: construção de comunidade e da mentalidade ‘façamos-nós-mesmos’

25/06/2018
Compartilhe este conteúdo

No Fab Lab Recife, Edgar Andrade ocupa o cargo de Articulador de Gente. Na realidade, ele é CEO da organização, uma empresa de inovação que leva processos de design para empresas e escolas como ferramentas para a resolução criativa de problemas. Edgar é um rebelde do bem: assumidamente mau aluno nos tempos de escola, ele luta com as próprias mãos por um novo modelo de educação, mais compatível com a realidade dos jovens do século XXI.

Batemos um papo com ele durante a 25a edição da Bett Educar, onde Edgar falou sobre o  movimento maker e o futuro das escolas, em uma palestra a centenas de educadores. Confira:

Qual a contribuição que o movimento maker traz para a educação nos dias de hoje?

O movimento maker não resolve os problemas, ele é uma ideia, uma filosofia, um processo e uma experiência. Na verdade, o movimento faça-você-mesmo tenta mudar a forma como nós nos relacionamos com o consumo e com as coisas. Já está claro que o modelo de sociedade baseado no acúmulo de riquezas não faz mais sentido atualmente. Há uma expectativa de que haja uma fusão entre os modelos – capitalista e socialista -, dando origem a um novo modelo de sociedade, a sociedade do compartilhamento. Já existem diversas iniciativas que apontam nesse sentido: o compartilhamento de casas, de carros, de espaços de trabalho e de máquinas.

A construção colaborativa e o compartilhamento vão impactar os modelos e experiências de negócios. Trabalhar esse movimento também na educação – seja nas escolas, em creches ou na formação empreendedora -,  é uma forma de se promover inovação de verdade.

Em sua palestra na Bett Educar, você usou a expressão ‘processos disruptivos encapsulados’ para defender que a mudança e as transformações aconteçam de forma gradativa e sejam mais duradouras. Fale mais sobre esse conceito e como a ideia funciona na prática.

Essa fala é, originalmente, de Luciano Meira (fundador do Joy Street), e é uma ideia incrível, na minha opinião. Eu sempre tive ansiedade por provocar transformações e, depois de conversar com o Luciano, entendi que a pressa para mudar prejudica a própria mudança.

O processo disruptivo encapsulado faz com que você inicie um processo de transformação e comece a provocar mudanças através das pequenas portas que se abrem para o novo. A disrupção deve estar guardada ali dentro. Assim como um comprimido dentro do nosso organismo libera a substância que vai curar ou diminuir algum sintoma, em algum momento a cápsula da disrupção explode. Nesse momento, ela vai acontecer de dentro para fora e não porque o dono da empresa, o professor ou o gestor decidiu impor a mudança.

Ninguém muda ou inova por imposição, é preciso construir uma cultura da mudança. O que devemos fazer é provocar as pessoas para que elas próprias desenvolvam soluções, seja na escola, nas comunidades ou nas empresas.

Muitos professores ainda resistem à educação maker, pois sentem que, ao construir junto com o aluno, eles estão perdendo o controle da aprendizagem…

A questão é que os professores já perderam o controle da educação. O fato da criança questionar a relevância da escola já é um sintoma disso. Eu, por exemplo, sempre gostei dos conteúdos da escola, gostava de História, de escrever, das dinâmicas. Mas não gostava da escola e cresci achando que era um péssimo aluno. Não entendia que o problema era a escola e não eu.

O problema é que, naquela época, a escola era o máximo porque era o único lugar onde as crianças tinham acesso à informação. Aquele era o lugar mágico onde o mundo se abria para nós. Quando a internet surgiu, um novo mundo surgiu com ela. As crianças de hoje já nascem mergulhadas em um mundo em que não há limites para a informação e para o conhecimento. Eu não gostava da escola, mas ela ainda era necessária. Hoje em dia, as crianças questionam a necessidade da escola.

Resistir à cultura maker e à cultura digital é o maior erro que um professor pode cometer. Ao contrário, o educador deve olhar para o que está acontecendo e procurar caminhos para aprender juntamente com seus alunos. O professor não é mais quem ensina, mas quem faz a mediação do conteúdo e a curadoria do processo de aprendizagem.

É muito comum que as instituições de ensino se preocupem com a implantação de espaços makers e fab labs e em disponibilizar alta tecnologia para os alunos. Esse é o primeiro passo para a construção de uma educação maker?

É natural que a gente queira partir imediatamente para o que é palpável. Não vejo problema quando alguém me pergunta qual a infraestrutura necessária ou quanto se gasta para construir um espaço maker em uma escola. O problema começa quando uma escola quer o orçamento para montar o espaço maker, mas ignora todo o processo de construção de comunidade que um espaço assim pressupõe.

 

Não faz sentido comprar uma cortadora a laser, uma impressora 3D e componentes eletrônicos, se a escola não sabe qual será o uso daquele laboratório. É legal ter o espaço, mas o mais importante é ter uma conversa com professores, pais, mães, alunos para entender o interesse deles em fazer, em participar de experiências makers. Tudo vai depender da comunidade que a escola vai conseguir criar. E depois os espaços vão se moldando de acordo com a evolução dessa comunidade. Então a pergunta que fica é: você tem uma comunidade maker?

 

Compartilhe este conteúdo

Assine a Newsletter

Fique por dentro de todas as novidades