Ensino híbrido: o que falta para as escolas adotarem o modelo

Blog Ensino híbrido: o que falta para as escolas adotarem o modelo

15/04/2020
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Estamos passando por um período bastante desafiador em razão de uma pandemia do novo coronavírus, a COVID-19. Todos os setores estão sendo impactados e com a educação, não é diferente. 

O número de estudantes fora da sala de aula já é superior ao de jovens que seguem indo à escola em todo o mundo, e a tendência é que esse número aumente ainda mais nos próximos dias. Por isso, a educação on-line tem sido uma grande aliada das instituições de ensino ao redor do planeta. Aquelas escolas que já haviam passado por uma transformação digital saem na frente, com infraestrutura e metodologia adaptadas para o ensino a distância (EAD). Outras instituições, no entanto, tentam fazer o melhor com o que podem e se têm aventurado nas  videochamadas, na produção de conteúdo para o YouTube, dentre outras alternativas. 

Pensando nisso, o CER preparou uma série de conteúdos especiais para o momento. Nossa intenção é sanar suas dúvidas e oferecer ferramentas visando dar o suporte necessário durante esse período de educação on-line. Esperamos que goste! Boa leitura!

 

O ensino híbrido é a grande aposta entre as tendências que podem transformar a educação nos próximos anos. Ele pode impactar fortemente os modelos de sala de aula, a dinâmica das atividades na escola, a forma de os estudantes se dedicarem à aprendizagem em casa e o papel dos educadores.

Alguns desafios, porém, ainda impedem que a maioria das escolas brasileiras migrem de vez para a modalidade. Conheça alguns deles neste post.

Refrescando a memória: o que é o ensino híbrido

Antes de mais nada, é importante deixar claro qual é o conceito de ensino híbrido. Como o próprio nome diz, ensino híbrido pressupõe a mescla de técnicas e suportes para os processos de ensino e aprendizagem, com a inserção das novas tecnologias nas dinâmicas educacionais.

Mas se engana quem pensa que o ensino mediado por computadores e via internet é um fim em si mesmo. Ele é o caminho para uma educação mais atraente, criativa e principalmente personalizada. Ou, como define a Fundação Lemann, “o ensino híbrido abre o horizonte para a personalização tendo a tecnologia como aliada”.

Dentre os modelos de implementação de ensino híbrido estão, segundo o Christensen Institute:

  • Modelo Flex: praticamente todo o aprendizado se dá on-line, com alguns momentos de atividades off-line.
  • Modelo A La Carte: combinação de aulas presenciais com aulas on-line, seja em casa, seja na escola.
  • Modelo Virtual Enriquecido: aulas presenciais na instituição de ensino, enriquecidas com atividades on-line em casa.
  • Modelo por Rotação: composto de quatro  subdinâmicas, o Modelo por Rotação prevê o revezamento de funções entre os estudantes durante as atividades, com o suporte de tecnologias digitais em diferentes momentos. Um deles, o mais conhecido, é a Sala de Aula Invertida.

A previsão de especialistas – ouvidos pela Fundação Catar – é de que, em 10 anos, ou seja, até 2030, a maioria das escolas oferecerá ensino mais personalizado, focado nas necessidades do estudante e híbrido.

Além dos benefícios do ensino híbrido para os estudantes citados, a modalidade promete impactar o setor da educação como um todo, segundo o Christensen Institute. Um dos motivos é por se tratar de um modelo de negócios disruptivo, que tem como foco novos consumidores e é capaz de gerar valor tanto para toda a cadeia de fornecedores, como as edtechs, quanto para os consumidores.

Ainda é um longo caminho

Embora as perspectivas para o ensino híbrido sejam promissoras, no Brasil ainda há um longo caminho a ser percorrido para que ele seja implementado plenamente. A seguir listamos os importantes desafios que abrangem os principais agentes de um ensino híbrido de qualidade: professores, escolas, estudantes e familiares.

Formação de professores

Com o ensino híbrido, professores se veem diante de um grande desafio: ensinar por meio de algo que eles próprios nunca experimentaram. Isso inclui não só o domínio das tecnologias em si, como também a abertura às novas metodologias.

Mais uma vez, o estudo do Christensen Institute aponta, por exemplo, que, dentre os educadores entrevistados no Brasil, 71,82% dos que disseram usar tecnologias no ensino o faziam de forma massificada. Ou seja, a tecnologia era apenas um suporte para a transmissão de aulas no formato ‘um-para-todos’.

Sendo assim, pensar caminhos adequados à formação de professores voltada à realidade da educação no mundo 5.0 e às novas demandas dos estudantes é fundamental.

Infraestrutura e tecnologia

Um dos principais gaps quando o assunto é ensino híbrido é a democratização do acesso à tecnologia e à internet de qualidade. Isso não só no Brasil, mas em outros países em desenvolvimento como a Malásia e a África do Sul, como também aponta um estudo do Christensen Institute.

A maior parte dos atividades on-line presentes nas escolas atualmente se dá em laboratórios de informática (63,64%), e não em estações para aprendizado on-line (22,73%). Ademais, o contato de muitos alunos com a educação mediada pela tecnologia se dá em casa (58,18%). E aí é importante recorrer a outros números para entender o tamanho do desafio: apesar de o acesso à internet estar em expansão no Brasil, os dados brasileiros ainda são bastante inferiores se comparados aos de outros países. Aqui, cerca de 57% dos lares possuem conexão, enquanto na Europa esse valor chega a 84%.

A velocidade da conexão também é um problema, ainda que venha melhorando ano a ano. Nos dispositivos fixos, como desktop, a conexão é feita, em média, a 48,75 Mbps, e, nos smartphones, a 24,79 Mbps. Para se ter uma referência, na Coreia do Sul a velocidade de conexão por dispositivos mobile chega a 52,4 Mbps, e no Japão, a 33 Mbps.

Segundo a última pesquisa TIC Educação, mostra que, embora a maioria das escolas urbanas tenha computadores (98%), nem todos estão em plenas condições de suportar aulas on-line. Grande parte delas tem menos de 15 equipamentos com conexão à internet. Nas escolas rurais, o acesso à internet é ainda mais escasso: apenas 34% têm computador conectado à internet e 46% não possuem nem sequer computadores.

Autonomia dos alunos e apoio das famílias

Como parte das dinâmicas do ensino híbrido envolve dedicação do estudante por conta própria, o fortalecimento de competências socioemocionais, em especial a autonomia e a capacidade de autogestão, está entre os pontos-chave a fim de que a estratégia seja aplicada com sucesso. Para se ter um exemplo, basta olhar para as taxas de evasão de cursos da Educação a Distância (EAD) no ensino superior. Ainda são superiores às dos cursos presenciais. Um dos motivos é exatamente a falta de maturidade para conciliar estudos e vida pessoal, fazendo a gestão do tempo e das atividades de maneira mais autônoma.

Se esse é um desafio para os estudantes do ensino superior, imagine para jovens dos ensinos fundamental e médio! Por isso, ter o apoio da família é essencial nesse processo. E, quando o assunto é suporte da família, sabemos que no Brasil isso significa uma grande disparidade entre classes sociais: estudantes que têm acesso à tecnologia, material didático e pais presentes e outros que, além de dificuldade para obter recursos, vivem em famílias desestruturadas.

 

Ainda são muitos os obstáculos a ser vencidos, não é mesmo? Para continuar se aprofundando no assunto e entender melhor do conceito de ensino híbrido, confira o Observatório especial que preparamos sobre o tema.

 

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