2020 é o ano que escolas de todo o Brasil têm para definir a arquitetura de seus novos currículos escolares, ou seja, definir a maneira como a formação geral e os itinerários formativos serão distribuídos ao longo dos três anos de ensino médio, se adequando à Base Nacional Comum Curricular. Além disso, é o ano que as instituições de ensino definirão, também, o conteúdo das cinco áreas de conhecimento previstas no documento.
A ideia é que o ano de 2021 seja dedicado, em seguida, à estruturação dos itinerários formativos e, a partir de 2022, os novos currículos sejam implementados em todo o sistema de ensino no país. E é sobre os itinerários formativos que falaremos neste Observatório.
Muitos gestores ainda têm dúvidas de como estruturá-los e, principalmente, como trabalhar o eixo estruturante do Empreendedorismo no currículo do ensino médio. O itinerário deve ter a forma de um projeto? Pode ser trabalhado em oficinas? Como fazer a conexão dos conteúdos da formação geral com o tema do empreendedorismo? Continue a leitura e descubra.
Antes de mais nada, vamos recapitular os dois pilares principais para o novo currículo escolar de acordo com BNCC: as áreas de conhecimento e os itinerários formativos. Com o compromisso de enfatizar a educação integral e o desenvolvimento de competências que preparam o jovem brasileiro para os desafios do século XXI, a BNCC determina que o currículo escolar, a partir de 2022, deve ser dividido da seguinte forma:
A ideia é que as disciplinas que até então eram trabalhadas em sala de aula - Português, Matemática, Biologia, Química, etc - sejam transformadas em conteúdos e propostas pedagógicas para a aprendizagens essenciais, chamada de Formação Geral Básica, composta por quatro grandes áreas de conhecimento e práticas, além da área de formação técnica:
Em complementaridade às áreas de conhecimento, estão os itinerários formativos, que são opcionais para os estudantes e foram pensados exatamente para dar uma aplicação ainda mais prática ao conteúdo visto em sala de aula, tornando possível o desenvolvimento pleno das competências previstas na BNCC.
A escola pode optar por oferecer itinerários formativos em quaisquer um dos quatro eixos estruturas - ou em todos, caso quiser.
Supõe o aprofundamento de conceitos fundantes das ciências para a interpretação de ideias, fenômenos e processos para serem utilizados em procedimentos de investigação voltados ao enfrentamento de situações cotidianas e demandas locais e coletivas, e a proposição de intervenções que considerem o desenvolvimento local e a melhoria da qualidade de vida da comunidade.
Supõem o uso e o aprofundamento do conhecimento científico na construção e criação de experimentos, modelos, protótipos para a criação de processos ou produtos que atendam a demandas para a resolução de problemas identificados na sociedade
Supõem a mobilização de conhecimentos de uma ou mais áreas para mediar conflitos, promover entendimento e implementar soluções para questões e problemas identificados na comunidade.
Supõe a mobilização de conhecimentos de diferentes áreas para a formação de organizações com variadas missões voltadas ao desenvolvimento de produtos ou prestação de serviços inovadores com o uso das tecnologias.
Fonte: Resolução CNE/CEB nº 3/2018, Art. 12, § 2º
A analista do Sebrae Thelmy Rezende explica que a escola não precisa criar itinerários conectados a todas as áreas de conhecimento, sendo obrigatório que os itinerários contemplem no mínimo duas áreas. Além disso, não necessariamente o itinerário trabalha o conteúdo da área de conhecimento daquele mesmo ano escolar, mas podem ser trabalhadas competências de todo o ensino médio, de forma fluida e transversal. não necessariamente aquelas do ano específico em que o estudante está
Outra dúvida muito comum aos gestores e professores que estão começando a desenhar os itinerários formativos é em relação ao formato deste componente curricular. Nesse sentido, as escolas também têm bastante liberdade. O conteúdo dos eixos estruturantes pode ser trabalho em qualquer formato, não há uma determinação da BNCC em relação ao “como” trabalhar. Assim, aulas, vídeos, oficinas, workshops, projetos ou qualquer formato que a escola julgue mais adequado pode ser escolhido ou vários modelos podem ser mesclados. O mais importante, no entanto, é que o estudante mobilize o conhecimento adquirido nas áreas de conhecimento para construir o conhecimento dos eixos estruturantes.
Se a escola quiser oferecer módulos, ela pode. Se quiser oferecer um projeto para ser desenvolvido ao longo de um ano, ou dos três anos, também”, explica Thelmy, reforçando a liberdade que a BNCC dá às escolas na hora de estruturarem.
Em relação à descrição do itinerário, em si, a sugestão é que ela siga o seguinte modelo:
Uma das maiores mudanças positivas trazidas com a BNCC, como vimos, é o rompimento com o paradigma conteudista da educação e o novo foco no desenvolvimento de competências. Por isso, o trabalho de desenho da arquitetura curricular e definição das áreas de conhecimento é anterior à definição dos itinerários formativos, uma vez que eles serão o desdobramento e a indicação de como aprofundar exatamente nas competências desenvolvidas nas cinco áreas da formação geral básica.
Um dos desafios, segundo Thelmy, para a criação de itinerários realmente relevantes para os estudantes, é, assim, a mudança de mentalidade de gestores educacionais e professores. “As pessoas ainda estão presas a programas e não pensam em experiências”, afirma. “Proporcionar experiências significa não ter uma organização fixa. Elas são conhecimentos fragmentados para atender aos interesses dos estudantes. São eles próprios é que irão construir a relação entre um e outro. A escola não precisa necessariamente fazer essa amarração, ela pode oferecer experiências e o estudante é quem vai, ele mesmo, fazer as conexões”, acrescenta.
Por isso, não é preciso estruturar um projeto de empreendedorismo longo ou um plano para tirar uma startup do papel, embora estas sejam ótimas ideias caso a instituição de ensino tenha maturidade e preparação para trabalhar de tal forma com os estudantes. Mas o empreendedorismo pode ser introduzido por meio de cursos curtos, por exemplo, em áreas como finanças, marketing digital, inovação, prototipação entre outras áreas afins. O mais importante é que em tudo o que for feito, as competências básicas sejam plenamente desenvolvidas.
Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
Como vimos, uma das preocupações da BNCC é preparar os jovens para os desafios dos tempos atuais. E um deles é, definitivamente, a empregabilidade. Com o mundo do trabalho em profunda transformação, o profissional do futuro irá trabalhar em empregos que sequer ainda existem e em funções que vão muito além do domínio de conhecimentos técnicos.
Fortemente impactado pela tecnologia, o mundo do trabalho exige que os profissionais tenham, cada vez mais, senso crítico, criatividade, habilidade para o trabalho em equipe, empatia e capacidade de tirar ideias do papel. Ou seja, o profissional do futuro é um profissional com perfil empreendedor, seja à frente de sua própria empresa, dentro de uma corporação ou mesmo em sua vida pessoal.
Um dos grandes desafios para que as escolas comecem a trabalhar com o empreendedorismo é a carência desse conteúdo nos cursos de formação de professores, que, em geral, não foram preparados para colocar em prática conhecimentos de empreendedorismo e que, muitas vezes, têm dúvidas inclusive acerca do conceito e suas dimensões. Por isso, o Sebrae se coloca à disposição das escolas brasileiras como um dos principais agentes de educação empreendedora do Brasil, com conteúdos gratuitos e soluções de consultoria para instituições de ensino.
Veja como a sua instituição de ensino pode recorrer ao Sebrae na hora de formatar o itinerário formativo no eixo de empreendedorismo.
Totalmente gratuitas e voltadas tanto para a formação de professores quanto para os estudantes, as Trilhas de Educação Empreendedora do Sebrae abordam temas variados, desde modelo de negócios das startups até empreendedorismo social. Os cursos voltados para os jovens podem ser usados dentro dos itinerários formativos, como módulos de capacitação ou combinados com oficinas e outras atividades práticas.
O Sebrae possui em seu catálogo mais de 100 cursos online totalmente gratuitos que podem ser usados pela instituição de ensino na construção do itinerário. Entre eles, os voltados especificamente para a educação empreendedora são:
Para as instituições de ensino que desejam trabalhar o empreendedorismo no formato de projeto, o Programa Despertar tem as ferramentas para isso. Baseado em uma metodologia própria do Sebrae, ele disponibiliza materiais didáticos e o treinamento para que os professores possam colocar em prática as atividades e dinâmicas ao longo do ano letivo, dividas em três etapas: encontros em sala de aula, atividades em campo e Feira do Jovem Empreendedor.
No total, são 22 encontros presenciais, cada um deles com duração de 2 horas/aula, dividios em temas que vão desde o autoconhecimento a definição do negócio, entrevista de emprego e planejamento de um empreendimento. A metodologia utilizada pelo Despertar contempla dinâmicas de grupo, aulas expositivas e vivenciais, nas quais o estudante constrói conhecimentos sobre o cenário socioeconômico mundial, a importância de desenvolver competências e encontrar oportunidades no mundo, o perfil do empreendedor, elementos da qualificação profissional, empregabilidade, opções de carreira, entre outros temas.
Ao final, os estudantes têm o desafio de tirarem do papel, eles próprios, a Feira do Jovem Empreendedor, buscando parcerias e recursos para viabilizá-la.
O Programa Nacional de Educação Empreendedora (PNEE) leva conteúdos e metodologias relacionados ao tema da educação empreendedora para os currículos dos diferentes níveis de educação, da básica à superior.
O PNEE é implantado por meio de parcerias com as instituições de ensino e as secretarias de educação, para que as escolas recebam gratuitamente o material de aprendizagem. Os professores adquirem, então, capacitação em empreendedorismo e são responsáveis por disseminar a metodologia nas salas de aula. Entre os produtos do programa, estão:
Empreendedorismo para a Educação Profissional:
assim como o curso para ensino superior, esta formação é implementada por meio de uma disciplina inserida na carga horária dos cursos técnicos ou de formação inicial e continuada. Os alunos são estimulados a pensar em sua carreira, tendo o empreendedorismo como possibilidade de construção de um projeto de vida.
Crescendo e empreendendo:
com foco nos alunos que desejam mergulhar a fundo nos desafios do mercado de trabalho, a formação prepara esses jovens para identificar oportunidades e criar soluções, mediante encontros vivenciais que têm o planejamento do futuro por meio de atitudes empreendedoras como principal premissa..
Jovem Empreender no Campo:
o programa Empreender no Campo busca capacitar os jovens que procuram dar continuidade aos negócios de família, especialmente em propriedades rurais. Durante a formação, eles desenvolvem o olhar empresarial para as práticas do campo, entendendo como ampliar as oportunidades e consequentemente a renda familiar.
Além dessas soluções, o Sebrae também oferece suporte especializado em educação empreendedora para a criação de currículos escolares e cursos de formação de professores em empreendedorismo, com o objetivo de preparar a equipe docente para abordar o tema em sala de aula.
Sua instituição de ensino pode - e deve - também contar com o CER durante todo o processo de estruturação dos itinerários formativos e sua implementação. Aqui, você encontra conteúdo especializado sobre inovação, tecnologias e educação empreendedora, além de cases inspiradores de outras escolas que vão ajudar a desenhar ações ainda mais relevantes para a realidade desses jovens. Também preparamos conteúdos específicos para os estudantes, levando histórias de outros jovens empreendedores, insights sobre o mercado de trabalho e dicas de como se tornarem estudantes e profissionais ainda mais preparados.
Por isso, fique de olho nos conteúdos que postamos por aqui e não deixe de assinar a nossa newsletter, que traz uma seleção de textos e entrevistas temáticos para te ajudar ainda mais a mergulhar no universo da educação empreendedora.