Os empreendedores têm encontrado na educação um nicho promissor de investimento. O efervescente mundo das startups já é responsável por introduzir novas plataformas, tecnologias e até modelos de ensino. Desvendamos o universo das Edtech Startups e suas inúmeras contribuições para a renovação da educação.
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O mundo das startups tem revolucionado os negócios com inovação, tecnologia, trabalho colaborativo, metodologias ágeis e soluções de impacto à sociedade. Toda essa efervescência tem beneficiado também a educação, com novos modelos de aprendizado, ferramentas digitais de estudo e interação, soluções para a implementação de tecnologia em sala de aula e para levar conteúdo de qualidade a locais de difícil acesso.
A educação tem se mostrado um nicho tão promissor para os empreendedores, que as startups do segmento têm até nome específico: Edtech Startups. Vamos aprofundar no conceito das Edtech Startups e como tirar melhor proveito delas para promover uma educação mais empreendedora. As vantagens são inúmeras e os alunos e educadores agradecem!
Imagine um empreendedor com uma ideia inovadora, com potencial de solucionar um problema ou de criar novas necessidades em sua comunidade. Pense nessa ideia tomando forma a partir de investimentos relativamente baixos, mas com um bom grupo de profissionais dedicados a tirar o plano do papel.
Some-se o potencial daquela ideia dar certo – e também o grande risco de ser um fracasso. Para completar, imagine que esse projeto inovador possa ser reproduzido em outras comunidades facilmente, através de pequenos ajustes para adequar o produto à realidade local. Basicamente, esse é o cenário ideal para as startups, que são formas de empreender relativamente novas. Para entender o caminho a percorrer até a criação das Edtech Startups, vamos começar do início dessa história.
O termo startup começou a se popularizar no Brasil no final da década de 1990 e início dos anos 2000, época em que a internet ganhava cada vez mais audiência. O termo passou a ser associado às novas empresas que surgiam para suprir necessidades do universo online, sejam sites de busca, provedores ou lojas virtuais. No Brasil, a efervescência em relação a esse tipo de empreendedorismo é mais recente. Levantamento realizado pela Associação Brasileira de Startup (ABStartups) mostra que o país contava, no final de 2015, com 4.151 empresas desse tipo, que ainda estavam em seu estágio inicial.
Uma startup é uma empresa em estágio inicial, que propõe ideias inovadoras e promissoras, mas que ainda não foram testadas no mercado e, por isso, têm alto índice de incerteza. Empreendimentos desse tipo têm baixos custos iniciais e expectativa de crescimento muito grande se dão certo. Startups de sucesso também conseguem criar modelos repetíveis, que podem ser reproduzidos em outras realidades com poucos ajustes. Esse tipo de projeto costuma estar ligado à pesquisa, investigação e desenvolvimento de ideias inovadoras. Muitas vezes, empresas com essas características surgem para suprir necessidades que antes não tínhamos. Quem poderia imaginar que as câmeras fotográficas seriam tão indispensáveis nos aparelhos celulares, a uma década atrás? Ou que armazenaríamos fotos, vídeos, músicas e outros arquivos em um espaço virtual chamado nuvem? Ou, ainda, que relógios, peças de roupa e calçados inteligentes (wearables) poderiam nos ajudar a monitorar o desempenho em exercícios físicos e até melhorar a saúde?
Empreendedores de startup não conseguem afirmar se seu projeto vai dar certo, justamente porque a ideia costuma ser extremamente inovadora. Por isso tem que testar e validar sua ideia, quantas vezes for necessário, antes de implementá-la.
A startup precisa mostrar como vai gerar lucro aos investidores. É com o modelo de negócios que empresários conseguem comprovar a estratégia que irão usar para gerar valor em sua empreitada.
Quando a empresa consegue reproduzir o bom resultado novamente sem precisar fazer muitas adaptações ou customizações.
Ou seja, conseguir crescer em receita numa velocidade maior que o aumento das despesas – e gerando mais lucro aos investidores.
No universo em expansão das startups, há quem aposte em contribuir em uma das áreas mais deficitárias do país: a educação. Especialistas que trabalham e investem na área defendem que as Edtech Startups são um dos setores mais promissores no Brasil, com iniciativas que propõem soluções inovadoras para mudar a experiência de aprendizado dos alunos.
Em meio a estratégias tradicionais de ensino, que ainda estão presentes na grande maioria das escolas do Brasil, do nível básico ao ensino superior, as Edtech Startups disponibilizam plataformas online para ensinar através de jogo ou quiz, além de vídeo aulas em um espaço semelhante à Netflix. Outros empreendedores apostam em ensinar conteúdo inovador: já pensou em matricular seu filho em uma escola de programação? Há, ainda, quem aposte em um período de imersão completa em determinado conteúdo – uma espécie de acampamento – para tornar o estudante especialista naquela área.
1A grande maioria das escolas utiliza estratégias tradicionais de ensino, que por vezes se mostram ineficazes. Na contramão dessa tendência, as startups oferecem soluções inovadoras.
2O país conta com avaliações muito importantes para o futuro dos estudantes. Uma boa nota no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), por exemplo, pode definir uma trajetória profissional. Por isso, vários empreendedores apostam em criar plataformas ou percursos de ensino com foco em garantir o bom desempenho do aluno.
3A educação não recebe grandes investimentos para mudar todo esse cenário e ainda não investe em tecnologia para melhorar o ensino. E essa é a oportunidade para as startups: oferecer algo novo, inovador e que tem capacidade para solucionar um problema.
Além de ter diversos desafios e possibilidades, a área da educação possui um mercado de fazer inveja. Veja:
(creche, pré-escola, aos ensinos fundamental e médio, à educação de jovens e adultos e educação especial)
Fonte: Censo Escolar da Educação Básica e Censo Escolar do Ensino Superior (Ministério da Educação) 2016
é a estimativa de investimento global
nas Edtech Startups até 2020.Fonte: EdtechXGlobal
Um dos entusiastas desse ramo é Fernando Americano, co-fundador da Le Wagon Brasil (empresa que oferece um programa intensivo de nove semanas para ensinar programação). O empreendedor criou um mapeamento das principais empresas brasileiras que atuam na área, dividindo-as nas categorias:
Estão presentes nesta categoria as empresas que disponibilizam conteúdo, cursos e aulas para que os alunos aprendam via internet. Através de diversos portais e plataformas o estudante pode estudar para o ENEM ou para a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O usuário também pode aprender a editar vídeos, tocar violão, desenhar ou cozinhar. O modelo de negócios dessas empresas costuma cobrar pelo curso ou estipula um valor de mensalidade para os usuários.
Para essas empresas, reler as anotações feitas durante a aula ou revisar o livro não são as únicas estratégias de estudo para alguma prova ou avaliação. Startups desse ramo propõem maneiras de estudar mais divertidas e personalizadas, conseguindo lucrar a partir da venda de produtos e soluções para as escolas.
Quem atua nessa categoria oferece espaços que contribuem para a organização da vida do professor ou do aluno. Elas propõem estratégias para ajudar o educador a diagnosticar dificuldades dos alunos em sala de aula, a preparar avaliações e corrigi-las. Para os alunos, pode disponibilizar uma espécie de agenda, em que são listados todos os compromissos na escola. Empreendimentos desse tipo também geram valor a partir de parceria com instituições de ensino.
Se a programação é a linguagem do futuro, já há muita gente disposta a ensinar sobre tecnologia através de diversas maneiras. Para ensinar mais sobre esse universo, a maioria dessas empresas não exige que o estudante tenha diploma na área. Algumas disponibilizam cursos à distância, outras promovem a imersão dos interessados no universo da tecnologia, seja ensinando sobre programação, marketing, design digital ou vendas online. Como ganhar dinheiro? Startups dessa categoria podem cobrar pelos cursos que disponibilizam.
Alfabetização digital é o objetivo desse tipo de startups, que buscam despertar o potencial criativo e empreendedor em jovens e crianças. Há quem ensine programação, design ou robótica a crianças, por meio de métodos como o design thinking ou o aprendizado com foco em projetos. Aqui, os cursos são pagos.
Nessa categoria estão as iniciativas mais ambiciosas, uma vez que tentam romper com a estrutura tradicional de ensino, buscando novos caminhos e metodologias para ensinar. Iniciativas dessa área propõem o ensino através da experiência e do fazer, que exploram maneiras de ensinar que fogem aos padrões. Startups desse ramo vendem a empresas sua estratégia para ensinar ou solucionar problemas.
Ainda que as possibilidades sejam diversas e os ganhos difíceis de mensurar, há quem tenha reservas ao pensar no futuro das Edtech Startups brasileiras. Isso porque o setor enfrenta barreiras para disponibilizar seus produtos de norte a sul.
Uma delas é a falta de qualidade das redes de dados do país. Especialistas apontaram, durante audiência pública realizada pelo Senado brasileiro em 2016, que nosso país ainda não conta com bons índices de conectividade. Outro estudo, encomendado pelo Facebook, coloca o país entre os 10 do mundo com maior número de pessoas desconectadas. Em um cenário como este, como criar estratégias e produtos para chegar àqueles que têm internet de má qualidade ou que não tem acesso à rede em sua casa?
A dificuldade em lidar com o Estado é apontada por empreendedores como uma das complicações do setor. Acostumados a um universo de constante mudança, lidar com o modelo moroso e burocrático da máquina pública é um desafio para alcançar a comunidade estudantil em larga escala. Além disso, instituições governamentais ainda têm reserva quando o assunto é investir em tecnologia, principalmente por não terem dimensão do valor que as startups podem proporcionar para a educação.
Quais são as oportunidades reais de fazer a diferença no Brasil? Um estudo das organizações Potencia Ventures e Instituto Inspirare realizou estudo sobre o contexto educacional em seis estados brasileiros, que recebem juntos metade do orçamento público em educação no país. A pesquisa, de 2013, revelou diversas oportunidades de atuação para startups no Brasil, as combinações promissoras, que têm foco principalmente na mudança do ensino oferecido às classes mais baixas.