Pensar em novas metodologias de educação e possibilidades de aprendizagem não é nenhuma novidade – sabemos que isso se dá quase que de forma inevitável e orgânica. Afinal, a área, reinventa diariamente. Neste artigo, em especial, vamos um pouquinho mais longe: queremos falar sobre como a neurociência, que estuda o sistema nervoso e suas funções e tem ganho cada vez mais relevância nos últimos anos, pode ser importantíssima (e até determinante) para um futuro educacional promissor.
Quando falamos de Educação ou aprendizagem, a primeira área de conhecimento que costuma vir à mente é a Pedagogia – que, afinal, é a área de conhecimento que cria (ou aperfeiçoa) técnicas e metodologias de aprendizado, dedicando-se a alavancar a qualidade do sistema educacional. A grande questão, contudo, está exatamente aí: a Neurociência, por sua vez, é uma área da Medicina que agrupa, dentre outras disciplinas, Neurologia, Psicologia e Biologia para estudar o sistema nervoso: suas funcionalidades, estrutura, processos de desenvolvimento e possíveis alterações decorrentes do tempo ou de acontecimentos específicos. Em linhas gerais, seu estudo busca elucidar o funcionamento do sistema nervoso.
Quando entendemos que o processo de aprendizagem está também relacionado à forma como o nosso cérebro funciona, absorve informações e "organiza diferentes caixinhas", a resposta parece óbvia: melhor e mais eficiente será o processo de aprendizagem ao entender como cada pessoa desenvolve ou absorve as informações que recebe no decorrer da vida.
Agora, vamos um pouco mais fundo... Entenda as divisões do nosso cérebro e a funcionalidade de cada uma delas.
O córtex cerebral, parte mais externa do cérebro (a massa cinzenta), é a região do nosso cérebro que recebe os impulsos produzidos no nosso dia a dia, isto é, é dele que saem os impulsos que comandam os movimentos voluntários do nosso corpo. É o grande computador do nosso cérebro.
Ele é dividido em diferentes lobos cerebrais, que assumem funções específicas e diferentes entre elas. Entenda:
Exatamente por estudar o funcionamento do sistema nervoso, a Neurociência consegue auxiliar e entender como ocorre o processo de aprendizagem – e personalizá-lo, sempre que possível, criando métodos e processos cada vez mais eficientes. Conheça, a seguir, os princípios da Neurociência com potencial para aplicação no ambiente de sala de aula, retirado do artigo Neurociência na Educação, de 2006, da revista eletrônica Faculdades Integradas Espírita.
Princípios da Neurociência | Ambiente de Sala de Aula |
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Aprendizagem & memória e emoções ficam interligadas quando ativadas pelo processo de aprendizagem. | Aprendizagem sendo atividade social, estudantes precisam de oportunidades para discutir tópicos. Ambiente tranquilo encoraja o estudante a expor seus sentimentos e ideias. |
O cérebro se modifica aos poucos, fisiológica e estruturalmente, como resultado da experiência. | Aulas práticas/exercícios físicos com envolvimento ativo dos participantes fazem associações entre experiências prévias com o entendimento atual. |
O cérebro mostra períodos ótimos (períodos sensíveis) para certos tipos de aprendizagem que não se esgotam mesmo na idade adulta. | Ajuste de expectativas e padrões de desempenho às características etárias específicas dos estudantes, uso de unidades temáticas integradoras. |
O cérebro mostra plasticidade neuronal (sinaptogênese), mas maior densidade sináptica não prevê maior capacidade generalizada de aprender. | Estudantes precisam sentir-se "detentores" das atividades e temas relevantes para a sua vida. Atividades pré-selecionadas com possibilidade de escolha das tarefas aumentam a responsabilidade do aluno no seu aprendizado. |
Inúmeras áreas do córtex cerebral são simultaneamente ativadas no transcurso de nova experiência de aprendizagem. | Situações que reflitam o contexto da vida real, de forma que a informação nova se "ancore" na compreensão anterior. |
O cérebro foi evolutivamente concebido para perceber e gerar padrões quando testa hipóteses. | Promoção situações em que se aceitem tentativas e aproximações ao gerar hipóteses e apresentação de evidências. Uso de resolução de "casos" e simulações. |
O cérebro responde, em razão da herança primitiva, às gravuras, às imagens e aos símbolos. | Permissão para estudantes expressarem conhecimento através das artes visuais, da música e de dramatizações. |
(Modificado de Rushton & Larkin, 2001; Rushton et al., 2003)
De acordo com o neurocientista Kandel, que já conquistou o Prêmio Nobel pelas suas contribuições acadêmicas na área, "aprender significa criar memórias de longa duração". Portanto, a partir do momento em que o professor alia estímulos e estratégias ao conteúdo que ministra, a absorção e a fixação do conteúdo no longo prazo podem ser potencializadas. E mais: quando resgata o que foi absorvido em um ambiente de ensino, seja ele qual for, e aplica isso de forma criativa para resolver problemas, o estudante confirma a eficiência da memória que criou em seu processo de aprendizagem.
A plasticidade do cérebro, apontada no quarto princípio da Neurociência, permite que ele crie outras conexões ao longo da vida e ao longo de suas experiências. Contudo, o mesmo princípio também aponta que há maior facilidade de aprender quando o estudante é o protagonista do processo, ou seja, caso ele possa fazer escolhas acerca do seu aprendizado ou escolher as tarefas que deseja executar. Isso aumenta o seu senso de responsabilidade e, consequentemente, sua capacidade e motivação para absorver o conteúdo.
O modelo "tradicional" de ensino, ainda replicado por muitas instituições, coloca o professor em uma hierarquia superior em relação ao aluno. Ali, o educador funciona como alguém que transmite o conhecimento, ao passo que o estudante apenas absorve. Entretanto, a Neurociência contribuiu também para entender que outras formas de educar podem ser mais eficientes. Uma delas inclui o posicionamento do aluno como o grande responsável pelo seu processo de aprendizagem. Isso tudo resulta em configurações que auxiliam e apoiam o aluno no decorrer dos anos. Entenda:
Todo o processo descrito acima faz parte da metodologia ativa de ensino, que se pode desdobrar em outros diferentes tipos de ensino, mas se resume ao estudante como protagonista de seu desenvolvimento. O professor se posiciona muito mais como um intermediador do processo educacional do que como um "comandante", e daí o nome: o estudante não atua mais com um papel "receptivo" no ensino, e sim ativo. Isso já podia ser interpretado (ou mesmo confirmado) com base na teoria do psiquiatra William Glasser, conhecida como "A pirâmide de aprendizagem". Veja:
O ensino híbrido, também conhecido como “blended learning”, é uma das metodologias ativas que explicamos acima; é, basicamente, uma tradução do mundo interconectado em que vivemos hoje. Nesse modelo, o mundo on-line e o off-line se unem com o intuito de desenvolver o aluno. Basicamente, é a junção entre a tecnologia e a educação, inserindo no processo de aprendizagem recursos como videoaulas, jogos, conteúdos exclusivamente digitais, etc. Aqui, novamente, aparece o estudante como protagonista de seu desenvolvimento, já que o educador exerce papel mais mais gerencial do que operacional.
Um termo amplamente difundido nos dias de hoje, especialmente entre os empreendedores, pode fazer a diferença também na educação. Basicamente, o método propõe a solução de problemas por meio do pensamento visual. Ele traz uma abordagem mais humana, avaliando aspectos sociais e culturais visando chegar a uma solução mais completa e eficiente para o público. O processo do design thinking é dividido em cinco fases: 1. descoberta; 2. interpretação; 3. ideação; 4. experimentação; 5. evolução. Apesar de ser muito usado em empresas e em grandes corporações para encontrar soluções, não há nada que impeça o seu desenvolvimento em sala de aula. Em sua essência, o design thinking prega que a capacidade de transmitir informações e solucionar problemas vem da capacidade de se comunicar com o outro com clareza. A partir daí, há o uso justamente de elementos visuais que busca ilustrar a ideia por meio de organogramas, cores, títulos, fluxos e por aí vai.
Desenvolvida em 1970 por Larry Michaelsen, esta metodologia tem o intuito de explorar, ao máximo, as oportunidades oferecidas pelo trabalho em grupo. A proposta é que os grupos trabalhem no mesmo espaço físico e compartilhem conhecimento e experiência, além de chegarem juntos a novas conclusões e estreitarem os laços de cooperação e empatia.