Representatividade na Educação: como tratar o tema na escola?

Blog Representatividade na Educação: como tratar o tema na escola?

16/10/2020
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Falar sobre garantia de igualdade de direitos é um debate que não pode passar dissociado de outro tema: a representatividade. Seja na política, nos altos cargos corporativos, nas artes ou na ciência, abrir oportunidades para que pessoas não representadas alcancem posições de referência é essencial para que a sociedade tenha um retrato mais fiel do que ela realmente é: diversa.
Na Educação não é diferente. Muitas escolas abrem espaço em suas aulas para debater combate à discriminação, mas não necessariamente pensam em como incluir mais representatividade na educação. Como mudar este cenário? É isso o que veremos neste post.

Por que a Representatividade na Educação importa?

Antes de mais nada, é preciso entender o que é Representatividade. E por que ela faz tanta diferença não só na luta contra o racismo, mas na luta contra qualquer tipo de discriminação. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 82,6% dos negros afirmam: a cor da pele influencia nas oportunidades de trabalho, profissionais negros ganham em média 36% menos que os brancos, ocupam apenas 18% dos cargos de elite e são 60,6% dos desempregados.
Uma campanha realizada em 2016 ajuda a explicar um dos motivos para isso. Criada pelo Governo do Paraná, a campanha Teste de Imagem colocou à prova alguns profissionais de Recursos Humanos (RH). Um mediador mostrou a uma parte dos participantes fotos de pessoas brancas em situações corriqueiras e a outro grupo fotos de pessoas negras nas mesmas circunstâncias, solicitando a eles que descrevessem as situações. O resultado mostrou que todos os personagens negros foram classificados de forma pejorativa ou negativa ou socialmente inferior. Em duas fotos idênticas de modelos que seguravam uma roupa em um ambiente de loja, por exemplo, a modelo branca foi classificada como uma cliente, ao passo que a modelo negra, como uma vendedora. Por que isso se dá?
A falta de representatividade explica a reprodução de um racismo arraigado entre nós como sociedade: se não nos acostumamos a ver pessoas negras em posição de prestígio, pessoas gordas como exemplo de beleza ou pessoas com deficiência física nos esportes, por exemplo, passamos a nutrir a ideia de que isso é fora do comum.
Para as crianças negras, isso pode ter um efeito devastador em sua autoestima, resiliência e capacidade de perseguir seus sonhos. Se não convivem com professores, médicos, empreendedores, artistas negros, como elas podem alimentar o desejo de um dia se tornar um desses profissionais? É por isso que a Representatividade na Educação tem um papel tão estratégico para a construção de uma sociedade mais justa.

Representatividade é mais que um discurso, é prática

Inserir o tema da Representatividade na Educação não começa na teoria, mas na prática. Por isso, o primeiro passo é fazer uma análise crítica e aprofundada sobre o quão diversa é a sua instituição de ensino. O quadro de professores conta com profissionais negros, por exemplo? Existem mulheres em posições de liderança ou à frente do ensino STEM? A escola é acessível a crianças, a pais e a funcionários com algum tipo de deficiência? Quando algum palestrante é convidado para atividades escolares, aspectos relacionados à diversidade pesam na hora da contratação?
Sem um ambiente de diversidade, a Representatividade na Educação se tornará apenas um discurso e é muito provável que as crianças negras continuem não se sentindo representadas, se puderem ver pessoas como elas em posições de prestígio ou liderança.

Como falar de Representatividade com os estudantes?

Além de investir em mais diversidade no corpo de professores, profissionais e parceiros, aqui estão algumas maneiras de levar o debate para as aulas:
Conte o outro lado da história
Toda história tem dois lados e, no Brasil, por conta do nosso passado de colonização, acostumamo-nos a ouvir o lado dos conquistadores. Expressões como “descoberta do Brasil” ou ideias como “mulheres são tradicionalmente mais aptas a trabalho de suporte ou doméstico” ou, ainda, “devemos investir na civilização dos povos indígenas” comumente são propagadas em sala de aula, sem um pensamento crítico por trás do que elas representam.
Ao falar sobre direitos trabalhistas, por exemplo, que tal instigar os estudantes a ouvir as histórias de empregadas domésticas? Ou em uma conversa sobre mercado de trabalho, você pode levar para as aulas o exemplo de mães que têm jornada tripla de trabalho (em casa, no emprego e com os filhos) e mostrar os desafios das mulheres quando o assunto é equidade no ambiente de trabalho. Se o assunto for violência, convidar um ex-detento para falar sobre a realidade em que cresceu e como isso moldou sua experiência de vida pode também ser interessante. O exercício para mais Representatividade na Educação é desconstruir constantemente o olhar e abrir espaço para o outro lado da História.

Descolonize o olhar para o mundo

Por conta da história do nosso país, nossas referências costumam ser muito ligadas à cultura europeia também à estadunidense. Isso faz com que nossa percepção acerca do mundo seja envieasada, ou seja, influenciada por apenas uma perspectiva. Um trabalho importante para desconstruir e descolonizar o olhar para o mundo é, portanto, ter a cultura brasileira, a cultura latinoamericana e a cultura africana como protagonistas na sala de aula. Sempre que possível, deixe que as referências usadas no conteúdo sejam brasileiras, de nossos vizinhos ou de algum país da África, fale sobre a música, a gastronomia, a cultura, as linhas de pesquisa e tudo mais o que puder tornar a percepção dos jovens mais adequada à nossa realidade.
Use personagens
Nós nos inspiramos em grandes figuras desde pequenos, e o “herói” é muito importante para a construção do nosso caráter e de nossas aspirações para o resto da vida. Por isso, enriquecer as aulas com personagens é uma maneira poderosa de investir em mais Representatividade na Educação.
Ao falar sobre Literatura na Língua Portuguesa, é inegável abordar a importância de Fernando Pessoa. Mas por que não levar também Mia Couto, escritor moçambicano e propor uma análise de seus livros? Nas Ciências, normalmente ouvimos sobre Newton, Galileu, dentre tantos homens que fizeram História. Dedicar uma ou mais aulas somente às descobertas e à trajetória de Marie Curie é uma forma de romper com a ideia de que as Ciências e as áreas de Exatas são só para os homens.
Isso requer esforço e proatividade dos professores, além de muita pesquisa na maior parte das vezes. Todavia, como tudo quando o assunto é Representatividade na Educação, é um investimento.
  • Dê voz à quem não é representado

Quantas vezes as estudantes mulheres são chamadas à frente da sala para explicar como resolveram um problema complexo de Matemática? Ou como é tratada a divisão de equipes e esportes nas aulas de Educação Física? Os professores devem estar atentos a essa questão e propositalmente dar mais voz e vez aos grupos que não têm tanta representatividade entre os alunos, visando corrigir a histórica falta de Representatividade na Educação.
Esses são apenas alguns exemplos de como abordar o tema da Representatividade na Educação e garantir que sua escola se torne um ambiente acolhedor para a diversidade. Os benefícios vão muito além da educação dos alunos. Escolas mais diversas costumam também ser mais criativas, inovadoras e a ter melhor ambiente de trabalho.
Quer mais ideias para continuar investindo em diversidade? Conheça estas seis dicas para estimular a equidade de gênero na escola.
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