Com a pressão para serem cada dias mais inovadoras, muitas escolas investem em recursos tecnológicos, por exemplo, disciplinas de robótica, construção de makerspaces ou fablabs. Mas, o que realmente está por trás da inovação? E como dizer se uma escola é ou não inovadora?
De acordo com Luciana Allan, diretora do Instituto Crescer, que desenvolveu a APEI 50, metodologia gratuita de mensuração da inovação educacional, a inovação começa na revisão das práticas pedagógicas, que, combinadas com a tecnologia, são capazes de desenvolver não só as competências cognitivas dos alunos, mas as socioemocionais e também as digitais. E os professores também têm importante papel nesse processo.
Conversamos com Luciana sobre inovação no contexto educacional, formação de educadores e tecnologia. Confira a entrevista a seguir!
A avaliação nos permite parar a fim de refletir e entender o momento em que estamos em termos de inovação dentro da instituição – porque existem graus diferentes de inovação – e também para ajudar a desenhar estratégias de intervenção mais adequadas ao perfil da instituição e ao dos professores. Além disso, a mensuração permite fomentar uma discussão do que é, realmente, inovação no contexto pedagógico e como colocá-la em prática.
Inovação no contexto educacional não é moda, é uma necessidade que aparece no momento que estamos vivendo como sociedade, em que estamos sendo impactados pela chegada de algumas mudanças que têm relação direta com o advento de algumas novas tecnologias, como, por exemplo, a internet. Essa mudança está ocorrendo na sociedade como um todo, não só na educação. Todas as áreas e até nossa vida pessoal estão sendo impactadas de alguma forma e consequentemente mudando bastante com essas tecnologias.
Existe um novo perfil de alunos, que têm novas formas de aprender, novos interesses e necessidades. O mercado de trabalho também é outro, com outras oportunidades de empregabilidade e, cada vez mais, a possibilidade de o jovem empreender e de ser dono de seu negócio. Temos ainda profissões que estão surgindo e exigem o domínio de novas competências. Tudo isso culmina na necessidade de se repensar a educação.
A tecnologia tem sido um fator propulsor, já que foi ela a dar o start em toda essa necessidade de revisão da prática pedagógica que existe hoje. Mas ela não é determinante. A grande questão que temos atualmente é metodológica, das práticas pedagógicas que precisam ser revisitadas. É preciso ter estratégias de ensino que sejam mais adequadas visando atender ao novo perfil de aluno e ajudar a desenvolver as competências cognitivas básicas – como leitura e escrita, raciocínio lógico, trabalho em equipe –, e também auxiliar os alunos a desenvolver as competências socioemocionais e as competências digitais.
Esses três eixos de competências são extremamente importantes hoje em dia, e toda a prática pedagógica deve estar voltada para desenvolvê-los. O ensino conteudista, com a preocupação de ensinar o mesmo conteúdo a todos e preparar esses alunos para provas de vestibular, não soluciona os problemas complexos que temos hoje. É preciso preparar o aluno para a vida, para ter criatividade, resiliência, disposição, autonomia para buscar trilhar os próprios caminhos, ter organização e capacidade de diálogo com pessoas de diferentes áreas e culturas.
Dentro da avaliação de práticas educacionais inovadoras, consideramos que uma escola está inovando quando ela é capaz de fazer uso adequado das tecnologias e consegue, por meio disso, fomentar o desenvolvimento das competências socioemocionais e digitais.
Somado a isso, também é preciso ter um novo perfil de professor, incluindo aí novas competências além das profissionais que ele já possui, como o conhecimento curricular e do contexto dos alunos. Cada vez mais, os professores devem estar abertos a novas experiências, participar de aprendizagens colaborativas com outros professores, inserir-se na cultura digital, saber fazer curadoria de conteúdo e uso dos recursos educacionais abertos… Enfim, é outro perfil de profissional que precisamos atualmente.
Portanto, temos três pilares: uso adequado de tecnologia, como elas fortalecem as competências por meio das estratégias educacionais, e a presença de professores capazes de dar suporte a tudo isso.
É possível inovar com pouco recurso tecnológico, apesar de que, cada vez mais, os alunos têm acesso à tecnologia, nem que seja um celular com disponibilidade a uma conexão pública de internet.
Mas, como já mencionei, o que precisamos rever são as práticas pedagógicas. Precisamos pensar em trabalhar, cada vez mais, com metodologias ativas, colocar o aluno no centro do processo, envolvê-lo em discussões sobre algum problema da sua comunidade local, dar a ele a oportunidade de trabalhar em equipe, de fazer pesquisas e de usar a tecnologia que tem a sua disposição para produzir e divulgar seu material. Então, não precisamos necessariamente de ter a tecnologia na escola: um simples celular ou um computador mais antigo que o aluno possui permite fazer muita coisa. Basta que o professor pense em estratégias criativas e inovadoras para desenvolver esse tipo de atividade.
Os resultados são surpreendentes. Nunca imaginei que o APEI 50 fosse realmente ser visto como uma ferramenta importante para fomentar a discussão sobre inovação, ajudar a entender o momento da instituição e a planejar um programa de formação continuada para professores focado nessas questões.
O APEI 50 tem ajudado essas instituições a perceber onde elas estão e, por meio disso, conseguir entender melhor o trabalho que precisam desenvolver, já que os indicadores, por si sós, já trazem o caminho que pode ser trilhado para superar os desafios. Isso tem contribuído para que as escolas façam planos mais eficazes, focados nas necessidades de cada grupo, respeitando o tempo disponível que os professores têm para participar de iniciativas assim (que muitas vezes é escasso). O grande ganho é identificar, não só o desafio, mas como essas instituições de ensino podem seguir em frente.
Deu para perceber que os gestores educacionais têm importante papel no fomento e na continuidade das iniciativas de inovação, não é? Saiba mais dessa participação estratégia neste post. Conheça também o Modelo de Difusão das Inovações, que vai ajudá-lo a entender o caminho das boas ideias dentro de uma instituição.