Uma das metodologias ativas, o Aprendizado por Pares foi criado pelo professor Eric Mazur, da Universidade de Harvard (EUA). Durante uma aula da disciplina de Introdução à Física, ele tentava explicar aos alunos, de formas diferentes, como se chegava à resolução de um exercício. Conforme prosseguia, verificava que a expressão de confusão e dúvida no rosto dos alunos permanecia: eles não estavam entendendo nada, e isso ao ponto de não conseguirem nem ao menos elaborar perguntas que elucidassem suas dúvidas.
Desesperado, o professor notou que alguns dos estudantes ali presentes haviam conseguido acertar a questão. Então, recorreu a eles. Pediu que os alunos se juntassem aos colegas mais próximos e debatessem a resolução entre si. O que ele viu em seguida foi um completo caos, conforme descreveu numa entrevista concedida ao canal “Serious Science”, do YouTube. Mas, desse caos, a turma saiu entendendo a matéria em cerca de 2 minutos.
Com base nessa experiência, foi elaborada a metodologia de Aprendizado por Pares, que tem a colaboração entre estudantes do mesmo nível de conhecimento como sua prática principal. Neste post, conheça como funciona o Aprendizado por Pares e quais são as suas vantagens para a sala de aula.
Desde que Mazur aplicou o método pela primeira vez, o Aprendizado por Pares foi assunto de inúmeros estudos e aplicado em diversas instituições ao redor do mundo, desde o ensino básico até a capacitação de funcionários de empresas.
O consultor de Educação Superior da Universidade de Stanford (EUA), Rick Reis, define o método como o ato de estudantes aprenderem uns com os outros de maneira formal e informal.
O objetivo do peer learning é tirar o foco do ensino da transferência de informação professor-aluno, estimulando o estudante a buscar informações em leituras e discussões em sala de aula.
A maior lição que o professor Eric Mazur tirou da experiência que teve com aquela turma de Física básica foi que um efeito colateral comum do conhecimento é não conseguir mais identificar quais seriam as dúvidas de uma pessoa que está entrando em contato com o conteúdo pela primeira vez.
Em uma entrevista concedida ao Instituto Claro, Mazur chamou este fenômeno de “ponto cego”. “Ou seja, o conteúdo que a gente ensina há tanto tempo parece tão claro para nós professores que não conseguimos entender como um estudante iniciante o aprende. Dessa forma, não conseguimos abordar os equívocos que os alunos têm”, afirmou.
De acordo com ele, é mais fácil para um aluno que aprendeu um assunto recentemente ensiná-lo a outras pessoas porque ele sabe quais são as dificuldades de um iniciante e os erros que esse costuma cometer. E é por isso que o Aprendizado por Pares é importante para o ensino. Essa é uma forma bastante eficiente.
Além disso, o Aprendizado por Pares possui outras vantagens, como uma atenção mais individualizada aos alunos, o que não conseguiria ser feito pelo professor sozinho em uma turma grande. O método faz com que os estudantes se sintam responsáveis pelo próprio processo de aprendizagem e fiquem incentivados a aprender a aprender.
Outra característica importante do Aprendizado por Pares é que cada estudante tem a oportunidade de ajudar e ser ajudado, sentindo-se útil e parte de uma comunidade de aprendizado. Os que possuem maior dificuldade comumente ganham suporte emocional dos seus pares, que os incentivam a não desistir; isso porque eles mostram que também tiveram dúvidas para aprender, mas que há solução para isso.
De acordo com Mazur, o método é aplicado da seguinte forma: primeiro, o professor dá aos alunos um conteúdo para ler em casa, antes da aula. Ali, eles provavelmente não vão entender toda a matéria ainda.
Na aula, em vez de ensinar mediante uma aula expositiva, o professor faz perguntas à classe. Essas perguntas precisam ser aquelas que os estudantes costumam fazer após a leitura, e não questões de livros didáticos ou coisas que saíram da cabeça do professor. A turma então ganha alguns minutos para pensar, e logo depois o professor oferece respostas de múltipla escolha. Isso pode ser feito com auxílio dos smartphones, em que os alunos podem marcar a resposta que acharem correta.
Em seguida, o professor pede que os aprendizes procurem alguém próximo que tenha respondido de forma diferente para que possam discutir a resposta entre si. Isso pode ser feito em duplas ou em grupo de até cinco alunos.
Depois disso, o professor refaz a votação. “Se você começa com 30% a 70% de respostas certas, as chances de chegar a 100% na segunda rodada são grandes”, afirma Mazur. Depois disso, se ainda permanecerem dúvidas, elas serão respondidas pelo professor.
O Aprendizado por Pares torna o processo de aprendizagem mais fácil e claro para os estudantes, sendo uma boa ferramenta para implementar em sala de aula como uma metodologia ativa de aprendizado. Confiram também nosso observatório sobre metodologias ativas.