Aprendizado no ensino remoto: o que fica da experiência

Blog Aprendizado no ensino remoto: o que fica da experiência

15/02/2022
Compartilhe este conteúdo
De uma hora para outra, escolas, educadores e alunos precisaram se adaptar à nova dinâmica de ensino imposta pela pandemia da Covid-19. Quase dois anos depois, vale refletir sobre o impacto concreto dessa mudança, as boas práticas do ensino remoto que podem ser levadas adiante e como essa experiência orienta os educadores para o futuro.

Desafios do ensino remoto e o caminho percorrido para superá-los

Assim que a sociedade entendeu que o distanciamento social não seria de curto prazo, instituições de ensino começaram a se movimentar para buscar formas de dar continuidade às aulas. No susto, sem que escolas e pessoas estivessem preparadas, implantar essa adequação gerou estresse e sobrecarga. Conciliar rotinas pessoais e profissionais no mesmo espaço, providenciar estrutura e recursos adequados, e aprender repentinamente a trabalhar com novas tecnologias para as aulas on-line foram alguns dos desafios que o ensino remoto estabeleceu aos docentes. Outro ainda mais complexo de ser transposto foi a ausência da interação face a face, essencial para que os professores conseguissem captar a subjetividade de cada aluno e acompanhar de perto seus processos de aprendizagem.
“Em um contexto normal de aulas presenciais, o educador já enfrenta desafios para atrair a atenção do aluno e despertar seu interesse genuíno pela aprendizagem, conquistando o engajamento da turma. No formato on-line, essa questão é ainda mais complexa, porque a turma está em casa, com múltiplas possibilidades de distração, nem sempre disposta a ligar a câmera, e realmente é difícil se manter focado à tela por muito tempo”, ressalta Janaína Mourão, educadora e fundadora do EducaEthos, escola de formação humana para professores.
Para passar pelos obstáculos desse contexto com mais equilíbrio e amparo, foi essencial prezar a conexão entre os profissionais da área, mesmo a distância. A troca que costumava acontecer nas salas dos professores e nos corredores da escola foi transportada para o ambiente virtual e buscou criar espaços de diálogo que fomentassem a construção conjunta de soluções para a realidade vigente. Podemos exemplificar com três práticas adotadas por instituições de ensino e os ganhos promovidos por elas:
· Mentalidade de integração: ações que visaram debates construtivos e planejamento em equipe estimularam conexões, aumentando o sentimento de pertencimento e o engajamento.
· Canais de comunicação: ambientes virtuais possibilitaram a comunicação direta entre os profissionais, suprindo a falta do tête-à-tête. Eles puderam falar sobre os desafios encontrados e buscar, juntos, meios para resolvê-los.
· Divisão de responsabilidades: nesse novo contexto de alta necessidade de tecnologia, muitas tarefas foram distribuídas entre a equipe, evitando que a carga extra ficasse somente com o professor.
De fato, esses fóruns contribuíram para encontrar alternativas que preenchessem algumas lacunas, como a necessidade de mensurar o conhecimento assimilado pelos estudantes sem as tradicionais provas. Quizzes, por exemplo, eram uma forma mais interativa e ágil de checar a fixação dos aprendizados do dia. A estratégia de lançar desafios semanais em que os alunos tivessem que trabalhar em variados formatos, como conteúdo em vídeo, foto, texto, foi outra maneira de tentar mantê-los interessados e focados na construção de um portfólio que seria avaliado ao final.
Essas opções minimizam, em algum nível, os prejuízos dos processos de ensino e aprendizagem durante o ensino remoto, mas é fundamental pontuar que foram medidas de redução de danos, e não um caminho apropriado e eficaz para a realidade educacional atual.
“O ensino remoto não é o formato ideal para algumas séries, porque a interação no mundo real faz parte do processo de conexão e aprendizagem. Crianças que estão em fase de alfabetização, por exemplo, são muito impactadas por esse formato de telas. Professores, coordenadores pedagógicos e diretores fizeram o melhor trabalho possível perante as circunstâncias. É preciso, porém, considerar que esse modelo gerou perdas significativas para o processo educacional, que precisam ser cuidadas”, considera Janaína, que, nos primeiros anos de ensino remoto, compunha o quadro de profissionais de uma escola da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Boas práticas do ensino remoto que podem ser levadas adiante

Com o ensino híbrido cada vez mais presente nas instituições, mesclando e integrando ensinos on-line e presenciais, há o que se aproveitar das descobertas feitas até aqui e pinçar aquelas que podem ser levadas adiante. Em um artigo-pesquisa divulgado pela Revista Ibero-Americana de Educação, professores disseram quais ferramentas incorporaram às suas aulas, e o destaque fica para vídeo, exposição dialogada, slides e áudio. Os vocábulos “usar, aprender, buscar, domínio” apareceram repetidas vezes nessa sondagem, o que reforça a postura dedicada dos educadores para encontrar formas de estabelecer a comunicação com os alunos e promover o processo de ensino-aprendizagem.
Recursos que possibilitam interatividade também foram muito usados durante o ensino remoto, como é o caso de jogos e da ferramenta Flipgrid, para a criação de fóruns em que os alunos pudessem opinar e interagir com colegas por meio de vídeos curtos sobre tópicos criados pelo professor. Funcionalidades que permitiam sinalizar as emoções e conversar sobre elas também contribuíram para que esse aspecto não ficasse descuidado, já que não era possível perceber a expressão de cada pessoa via contato presencial.

Mas essa experiência deixou lacunas que precisam ser cuidadas

A oportunidade de construir outra narrativa educacional em 2022 ativou a confiança entre os educadores. Mas essa nova condição exige também “pé no chão”, olhar analítico e solucionador, além de muito trabalho. Mesmo com todos os métodos e recursos adotados nesses quase dois anos, é necessário ter clareza de que foram gerados prejuízos consideráveis em aprendizados e que as estratégias de ensino devem ser estabelecidas com base nesse cenário.
“O efeito do ensino remoto entre os estudantes é variado, e muitos estão despreparados para este novo ano. O primeiro passo nesse contexto precisa ser a construção de um diagnóstico que revela as defasagens existentes, para, então, ser construído um planejamento para o ano”, pontua a fundadora do EducaEthos.
Cenários como esse requerem professores dispostos a assumir contextos complexos. É desafiador encontrar diferentes níveis de conhecimento dentro da sala de aula e extremamente necessário olhar para isso de um modo mais humano e pessoal. “A formação de um educador deve ser integral. Conhecimento da área que leciona, técnicas e métodos são muito importantes, mas o aspecto humano é essencial. É importante ter ainda mais sensibilidade, paciência e amor para perceber e cuidar da falta de base entre os alunos”, sinaliza.
A necessidade da formação continuada fica evidente diante dessa circunstância, e, quando ocorre, ela pode agregar enormemente para o processo educacional. “Precisamos de professores de alto desempenho, que elevem o nível da entrega, dominem a arte de ensinar. Eles precisam conseguir reduzir a apatia em sala de aula e despertar nos alunos o desejo por aprender. Tem uma frase de Aristóteles que diz: ‘Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer’. Essa vontade existe em todos nós, mas é preciso ativá-la em sala. Por isso a formação continuada é tão necessária. “A faculdade não foca na formação humana e é preciso buscá-la”, conclui Janaína Mourão.
O universo da educação é dinâmico e repleto de rotas que podem ser exploradas. Se você gostou deste conteúdo sobre boas práticas do ensino remoto, acompanhe nosso blog e fique por dentro de conteúdos construtivos sobre diversos outros temas relacionados.
Compartilhe este conteúdo

Assine a Newsletter

Fique por dentro de todas as novidades