Embodied learning: os fatores não mentais na aprendizagem

Blog Embodied learning: os fatores não mentais na aprendizagem

26/01/2023
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As práticas pedagógicas são inúmeras e isso não é novidade para nenhum membro da comunidade escolar. O que pode parecer inédito são os leques de abordagens pedagógicas “menos tradicionais”, que vêm ganhando cada vez mais força nos últimos anos. Entre elas, temos o embodied learning. Não se preocupe se nunca ouviu falar no termo, é exatamente o tema em que nos aprofundaremos neste texto. Acompanhe e entenda a definição do conceito e descubra sua utilidade em sala de aula.

O que é embodied learning

Embodied learning (“aprendizagem corporificada”, em uma tradução literal) faz referência a um leque de abordagens pedagógicas que, como o nome sugere, envolve o corpo como um todo, focando nos fatores não mentais envolvidos na aprendizagem. A proposta é favorecer uma conexão com o físico, o emocional e o social, destacando a importância do corpo e dos sentimentos no processo de ensino-aprendizagem de qualquer indivíduo.

São pedagogias, portanto, que lançam mão de experiências criativas, propositando um envolvimento ativo dos estudantes para promover a troca de conhecimento. Muitas práticas abraçam, inclusive, as atividades artísticas como meio de aquisição de conhecimento.

Referências:

https://www.berlitz.com/blog/embodied-language-learning

https://blog.sanako.com/an-introduction-to-embodied-learning-techniques

Palavra de especialista

Por ser um assunto relativamente novo no universo pedagógico, ainda são poucos os materiais disponíveis em português sobre o tema. Neste texto, escrito pela comunicadora científica Lauren Parikhal e publicado originalmente em inglês, Tommaso Lana, fundador e facilitador do New York-based boutique consultancy Embodied Learning amid the COVID-19 Pandemic, bate um papo com a autora sobre o tema e revela informações interessantes acerca do conceito. Separamos alguns trechos da conversa para facilitar o seu entendimento, veja:

[Tommaso Lana]

As crianças são indivíduos únicos e talentosos – e todas aprendem fazendo. Pensar demais é um problema adulto. Elas usam seus corpos para perceber, sentir e se movimentar pela vida, enquanto nós, como adultos, tentamos pensar ou falar ao longo da vida. Em algum lugar ao longo do caminho perdemos a capacidade de aprender usando habilidades corporais que antes eram inatas.

[Lauren Parikhal]

Para mim, aprendizado corporificado [embodied learning] é um conceito que oferece uma maneira para os adultos adquirirem autoconsciência e encontrarem a sua voz interior. A ideia é que, enquanto crescemos, aprendemos fazendo, não lendo e, à medida que envelhecemos, fazemos menos e lemos mais. Durante esse período, perdemos o nosso senso inato de fisicalidade no mundo, levando-nos a uma falha de comunicação, pois dependemos mais das palavras e menos da linguagem corporal. Estou certa em presumir isso?

[Tommaso Lana]

Sim. É fascinante. E a aprendizagem corporificada [embodied learning] significa simplesmente recuperar o acesso àquelas ferramentas que usamos tão facilmente no início da vida. A aprendizagem por meio da experiência é inerente desde o nascimento. Pense em filhotes de tartarugas marinhas encontrando o oceano ou em crianças aprendendo novos idiomas. Aprender fazendo é inato e, à medida que crescemos, paramos de fazer isso com tanta frequência.

[Lauren Parikhal]

Eu nunca pensei sobre isso até você dizer, mas é verdade que raramente usamos nossos corpos para aprender e geralmente nos movemos menos à medida que crescemos. O que aconteceu quando você percebeu isso?

[Tommaso Lana]

Vamos começar com uma anedota. Na minha infância, eu sentia que não tinha voz. Eu hesitava nas conversas, me sentia inseguro e incapaz de expressar a minha opinião verbalmente enquanto todos ao meu redor conversavam facilmente. Percebi que precisava de mais tempo do que os outros para me sentir seguro no que diria. Mas eu sabia que poderia usar meu corpo para transmitir uma mensagem muito rapidamente. Enquanto estudava oboé [instrumento musical de sopro] aos 22 anos, concentrei-me no trabalho físico – pulmões, lábios, respiração e postura. Isso me fez pensar.

[Tommaso Lana]

Acredito que o começo do fim de nossos processos naturais de aprendizagem corporificada [embodied learning] é quando começamos nossos anos escolares formais. O foco muda da alegria de experimentar a vida para currículos, notas e pressão para se formar ou passar em um vestibular. As pessoas perdem sua independência de aprendizagem.

[Lauren Parikhal]

Na época da covid-19, parece que tanto o jogo físico quanto a educação tradicional se depararam com uma barreira. Pais e filhos presos em casa. Ninguém movendo tanto o corpo e, embora não estivessem mais presos às estruturas tradicionais de trabalho e escola, o tempo de tela se tornou maior do que nunca e a conexão física “não era recomendada”.

[Tommaso Lana]

É um momento esclarecedor porque vimos adultos assumirem a capacidade autônoma de viver das crianças. A pandemia nos fez a pergunta: o que estamos ganhando ao superproteger nossos filhos, cada vez mais, nas últimas décadas? Pais superprotetores podem agendar o tempo de seus filhos minuciosamente ou nunca permitir que eles brinquem fora.

Muitos adultos sistêmica e involuntariamente silenciam as vozes de seus filhos – e suas habilidades de aprendizado autônomas e inatas. Os pais não confiam neles ou projetam seus medos neles. Claro, não estou desconsiderando a segurança de uma criança, mas é uma perspectiva interessante de como uma criança perde a independência em nome do cuidado. Em vez disso, os adultos devem aprender observando seus filhos interagirem com o mundo como ele é, em vez de como eles acham que deveria ser.

*Texto traduzido livremente de https://embodiedlearning.co/what-embodied-learning/.

>> Leia a publicação completa em https://embodiedlearning.co/what-embodied-learning/

No meio da transcrição do bate-papo, Lauren faz uma pausa e passa pelas definições que podem conceituar o embodied learning. “A aprendizagem corporificada refere-se a abordagens pedagógicas que se concentram na competência autônoma e inata de todos – física, emocional e cognitiva – para construir processos de aprendizagem. Nosso corpo é o primeiro sistema educacional que experimentamos”.

E você provavelmente também parou para pensar nisso agora, certo? Nosso corpo é mesmo o primeiro sistema educacional que experimentamos e, por inúmeros motivos, enquanto crescemos, vamos negligenciando a capacidade que ele tem de nos apoiar em qualquer processo de aprendizagem.

A comunicadora resgata essas inúmeras funções e reforça a importância de todos se atentarem a isso. “Um sistema autodirigido herdado de milhares de anos de evolução. Entramos em nós mesmos ativando a parte profunda de nosso cérebro, que nos ensina como sobreviver; como expressar emoções genuínas; como dançar. Quando somos jovens, nos comunicamos fisicamente. Brincamos, choramos, pulamos de alegria ou corremos pela natureza ou ao redor da sala. Os adultos fazem todas essas coisas com menos frequência. À medida que crescemos, as estruturas culturais e sociais nos influenciam. Acabamos nos tornando mais verbais e perdemos contato com esse elemento físico. A linguagem corporal não é mais a linguagem universal”, sinaliza.

A partir de todas essas informações, fica cada vez mais fácil perceber a importância de um processo de ensino-aprendizagem em que o estudante é o protagonista, certo? Além disso, vale a reflexão sobre como as “paredes” das escolas tradicionais podem criar limites que mais prejudicam do que apoiam os estudos. A Educação Empreendedora leva isso em consideração e, não por acaso, tem se falado cada vez mais sobre a importância de levar o empreendedorismo para as crianças.

E você, depois de entender melhor sobre embodied learning, como acredita que pode levar o conceito para a sala de aula? Para complementar os seus estudos sobre o tema, leia o infográfico “Os efeitos da pandemia na educação”.

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