Multiletramento e Ensino Baseado em Discussão

Blog Multiletramento e Ensino Baseado em Discussão

10/01/2023
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Se observamos as nossas atividades diárias, constataremos que o tempo todo lemos mensagens ou recebemos comunicações em formatos diferentes de textos. Palavras, imagens estáticas, animações, áudios – tudo isso compondo um todo. É um fato, no século XXI estamos vivendo grandes mudanças das linguagens.

E, para compreender esses novos formatos de texto, uma competência que vai além da alfabetização para os textos escritos é exigida. O multiletramento, isto é, a capacidade de compreender não somente o letramento do alfabeto, mas também de todas as linguagens presentes na mensagem.

Para além dos formatos, estamos inseridos em um mundo de diversificação cultural. E é importante compreender os símbolos sob óticas diferentes de sentidos, por isso, é necessário aumentar o contato com culturas diversas.

Para entender o que é multiletramento e como trabalhar o tema nos currículos escolares, leia até o final.

O que é multiletramento?

Já há alguns anos, os livros, as revistas, os jornais impressos e outros veículos traziam os textos e as imagens, ou textos, números, gráficos para compor uma mensagem. Com o digital, no entanto, essas mensagens trazem um número maior de diferentes componentes textuais interagindo o tempo todo.

Com a popularização dos computadores, dos celulares e da internet, é cada vez mais comum que todas as formas de linguagem convivam em uma única mensagem.

Interagimos o tempo todo com uma combinação entre textos, imagens estáticas, fotografias, animações, áudios (sonoplastia), músicas. Pode-se falar em mensagens ou textos:

  • multissemióticos: que apresentam várias linguagens integradas em único discurso, ou que usam diferentes linguagens, combinando, por exemplo, textos e imagens.
  • multimodais: que se compõem de mais de forma de linguagem, de forma integrada, exigindo a interpretação de mais modais para que a mensagem seja compreendida na íntegra, como é caso de infográficos, que combinam textos e números, ou quadrinhos, que combinam as ilustrações com os elementos textuais.

Assim, para se compreender uma mensagem multissemiótica ou multimodal na sua integralidade de sentido, o indivíduo precisa conhecer muito mais do que apenas o letramento do alfabeto.

Além disso, vivemos em um mundo cada vez mais conectado, em que culturas diferentes estão cada vez mais próximas. De modo que, em algumas situações, conhecer essas diferentes culturas é importante para se compreender uma mensagem.

E o multiletramento seria exatamente essa habilidade de ser capaz de interpretar todas as linguagens presentes em uma mensagem.

Separamos aqui uma citação de dois estudiosos sobre o conceito – o multiletramento é:

“Práticas letradas que fazem uso de diferentes mídias e, consequentemente, de diversas linguagens, incluindo aquelas que circulam nas mais variadas culturas presentes na sala de aula, para além da cultura valorizada, tradicionalmente considerada pela escola.” (Cope e Kalantzis)

O termo multiletramento foi criado em 1996, na época, se consideravam as linguagens gestuais, sonoras, espaciais e linguísticas. O conceito, no entanto, foi se ampliando recentemente, passando a considerar as linguagens: escritas, orais, visuais, sonoras, gestuais, emocionais e espaciais.

Por que trabalhar com o multiletramento nas escolas?

O conceito de multiletramento nasceu antes da era digital que vivemos – em que os computadores já existiam, mas ainda não eram tão populares ou acessíveis como hoje. Os estudiosos já perceberam que há necessidade de o ensino avançar no sentido de preparar os indivíduos para o mundo contemporâneo que eles estavam inseridos.

Hoje, em um contexto de Geração Z e Geração Covid, em que temos os indivíduos como nativos digitais, isto é, já nascem inseridos em um ambiente altamente tecnológico e digital, faz-se ainda mais necessário considerar o multiletramento nas escolas.

Afinal, os indivíduos não serão capazes de se comunicarem de forma eficiente e crítica no mundo presente se dominarem apenas a linguagem escrita.

A BNCC (Base Nacional Curricular Comum) trabalha o multiletramento ao mencionar os novos letramentos, isto é, as novas maneiras de produzir e distribuir significados com base nas novas mentalidades e tecnologias.

Vale ressaltar também que as práticas de linguagem contemporâneas, na BNCC aparecem vinculadas a práticas da cultura digital e novos multiletramentos.

Por outra via, é importante formarmos pessoas que serão protagonistas do mundo em que elas vivem. Normalmente, os estudantes já chegam nas escolas como usuários das tecnologias, mas é necessário guiá-los e prepará-los para uma postura mais ativa, de cocriadores, por exemplo.

Na era digital de redes sociais como o “Tik&Tok”, todos podem ser criadores. Mas, para que os estudantes sejam criadores, é necessário que eles entendam o que pode ser publicado.

Um usuário é aquele que tem a competência técnica e prática, capaz de entender o que é dito. Já o criador tem aptidão para entender os diferentes tipos de texto, como as tecnologias funcionam, e como colocar em prática o que foi aprendido, em novos modos, proporcionando a transformação.

Como inserir o multiletramento no currículo?

O primeiro ponto é que usar músicas, filmes, quadrinhos e de outras formas que sejam multimodais ou multissemióticos apenas como forma de distração não é promover o multiletramento.

É necessário que esse conteúdo seja trabalhado de forma intencional. Que esses textos se tornem objeto de estudo. E o estudante aprende a ler uma música, a interpretar uma imagem, a compreender um filme, a captar a intencionalidade de uma mensagem.

Para preparar o estudante para um mundo contemporâneo, em que há um excesso de informação, que ainda há controle das grandes mídias e fake news, é necessário, em um primeiro momento, ensinar a realizar pesquisas. O estudante precisa saber buscar por um conjunto de informações confiáveis, interessantes e relevantes.

É fundamental que o professor incentive a autonomia da pesquisa.

Por fim, inserir o multiletramento exige mudanças práticas em sala de aula. Adaptações que tornem possíveis que os artefatos digitais, as imagens 3D e os mais diversos tipos de texto sejam analisados.

Não se trata de inserir uma nova disciplina no currículo, mas de montar planos de aula que tenham a intencionalidade de trabalhar o multiletramento.

Cabe à escola:

– prover espaços e recursos para isso;

– promover momentos interdisciplinares;

– formar continuamente os professores;

– levar exemplos e protótipos para a equipe escolar.

Em resumo, pode se dizer que o multiletramento supõe:

  • dominar outras habilidades de leitura e produção de texto que vão além da escrita, combinando diferentes formatos;
  • ser capaz de interpretar as mensagens cada vez mais complexas;
  • ter autonomia na hora de buscar por informações, fontes confiáveis e dados;
  • ser capaz de ser cocriador neste mundo digital;
  • preparar os indivíduos para assumir uma postura de protagonismo.

A educação tem passado por muitas mudanças, e o multiletramento é uma delas. Mas é cada vez mais necessário que os professores e a equipe escolar busquem por formação e atualização. Conheça aqui um infográfico com as 5 habilidades do professor do futuro e veja na prática um exemplo de material que provoca o multiletramento.

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