O que é e como trabalhar, então, a cultura de paz nas escolas? O que professores e gestores escolares podem fazer para favorecê-la e para combater o discurso de ódio? Aliás, essa é uma responsabilidade somente das instituições escolares?
A onda de violência nas escolas de todo o Brasil – como mostram os casos recentes em São Paulo, Goiás e Santa Catarina –, muitas vezes motivada em meios de comunicação virtuais, tem feito o discurso de ódio ganhar cada vez mais força.
Em uma matéria do G1, o professor e mestre em Educação da Universidade Católica de Brasília (UCB), José Ivaldo Araújo de Lucena, explica a definição do termo de maneira objetiva. “Cultura de paz nas escolas significa, nesse contexto, uma opção política e pedagógica dos atores que compõem o sistema de ensino, equipes diretivas, professores, auxiliares, estudantes e suas famílias, no sentido da construção de ações coletivas de superação de todo o tipo de violência”, afirma.
No entanto, com quem fica esse dever, afinal? No bate-papo de título “Debater o discurso de ódio cabe dentro do currículo escolar?“, que ocorreu entre Juliana Cunha, diretora da SaferNet Brasil, e Mariana Mandelli, do EducaMídia, fica evidente que também (mas não só) é papel da escola combater o discurso de ódio e promover a cultura de paz nas escolas.
“É um grande desafio inserir na escola temas tão contemporâneos, que são desafiadores até mesmo para a gente, que também ainda está construindo as respostas. Eu diria que, sim, a gente pode, de maneira transversal, trabalhar todos esses temas. A internet é um espaço muito favorável para que esses assuntos surjam, porque cada dia tem uma novidade – mais oportunidade do que isso para despertar a atenção e interesse dos estudantes não há”, comenta Juliana.
Contudo, segundo a diretora, não basta somente esse movimento. “É preciso repensar a escola, porque claro que a BNCC é um grande avanço, em que saímos de um modelo mais conteudista, mas ainda temos uma formação de professores focada no conteúdo. Precisamos repensar não só o currículo escolar, mas a própria formação dos professores“, reitera. Ela reforça que não é apenas sobre “fazer uma aula”. “Como é que eles se apropriam desses temas e como incorporam isso na atividade escolar? Não é fazer uma aula sobre empatia ou crimes de discurso de ódio; isso precisa estar entremeado na rotina e nas atividades. Precisa ser transversal e quase que transparente nesse sentido – não é o objeto em si, mas o que permeia toda e qualquer atividade e discussão realizada em sala“, destaca.
O professor José Ivaldo destaca, entretanto, que essa responsabilidade não é – e não é possível que seja – única e exclusiva das escolas, mas reconhece que o espaço é um território favorável para a promoção da cultura de paz nas escolas. “Elas são territórios privilegiados para o desenvolvimento de programas, projetos, atividades e ações de sensibilização e formação de crianças, adolescentes e jovens para a construção de uma sociedade mais humana e menos violenta”, declara. Mas reforça que é algo que extrapola os muros da instituição, também. “A paz, assim como outros conhecimentos difundidos nas escolas, precisa ser aprendida e cultivada. Exige um processo contínuo de aprendizagem, construção e reconstrução permanente, dentro e fora da sala de aula”, pontua.
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Entre as recomendações para tornar a cultura de paz nas escolas cada vez mais real, estão as apresentadas a seguir.
Outras formas de trabalhar a cultura de paz nas escolas – e que tiveram sucesso – foram citadas por José Ivaldo na reportagem do G1. O professor destacou quatro:
Finlândia, Chile e Estados Unidos. Como esses países combatem a violência escolar? Esta matéria do G1 compartilhou exemplos de como esses e outros países promovem a cultura de paz nas escolas. As informações foram retiradas de um levantamento da consultoria Vozes da Educação, demandado pela Fundação Lemann. Confira, a seguir, os exemplos mostrados na reportagem.
Política: o país conta com medidas regionais como o “School Mental Health Ontario” (Saúde Mental Escolar de Ontário) e o “Children’s Mental Health Ontario” (Saúde Mental das Crianças de Ontário), que funcionam na província onde fica a capital do país, e o “Mental Health in Schools Strategy – British Columbia” (Saúde Mental em Estratégia Escolar na Colúmbia Britânica).
Para quem: as iniciativas atendem a crianças e jovens, da pré-escola ao ensino médio.
Como é aplicada: as medidas atingem a comunidade escolar – alunos, pais e professores – com recursos e formação para escolas, a fim de propiciar saúde mental aos alunos e atuar contra o bullying, visando garantir uma convivência saudável no ambiente escolar.
Política: o “Programa Habilidades para la Vida” (Programa Habilidades para a Vida) existe desde 1998 e é comandado pelo Conselho Nacional de Auxílio Escolar e Bolsas de Estudo.
Para quem: beneficia estudantes da pré-escola ao ensino médio e envolve alunos, pais e professores.
Como é aplicada: o programa é adotado em regiões de vulnerabilidade econômica e social, com o objetivo de melhorar o desempenho escolar e o bem-estar mental e trabalhar habilidades pessoais.
Política: projeto “Cal-Well“, na Califórnia; “Política de Saúde Mental Escolar“, na Carolina do Norte; e “Iniciativa de Saúde Mental“, de Wisconsin.
Para quem: as três políticas estaduais visam beneficiar alunos da pré-escola ao ensino médio.
Como é aplicada: os departamentos de educação locais instituíram os próprios programas a fim de estabelecer a prevenção e a promoção da saúde mental, além de identificar casos mais graves e sinais de alerta que precisem de atenção extra de profissionais da psicologia.
Essas informações sobre a cultura de paz nas escolas foram úteis para você refletir sobre o que pode ser feito em sala de aula? Leia também sobre a pedagogia da resiliência.