Cultura de paz nas escolas: o que os professores precisam saber

Blog Cultura de paz nas escolas: o que os professores precisam saber

29/06/2023
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O que é e como trabalhar, então, a cultura de paz nas escolas? O que professores e gestores escolares podem fazer para favorecê-la e para combater o discurso de ódio? Aliás, essa é uma responsabilidade somente das instituições escolares? 

A onda de violência nas escolas de todo o Brasil – como mostram os casos recentes em São Paulo, Goiás e Santa Catarina –, muitas vezes motivada em meios de comunicação virtuais, tem feito o discurso de ódio ganhar cada vez mais força. 

O que é a cultura de paz e de quem é a responsabilidade de promovê-la

Em uma matéria do G1, o professor e mestre em Educação da Universidade Católica de Brasília (UCB), José Ivaldo Araújo de Lucena, explica a definição do termo de maneira objetiva. “Cultura de paz nas escolas significa, nesse contexto, uma opção política e pedagógica dos atores que compõem o sistema de ensino, equipes diretivas, professores, auxiliares, estudantes e suas famílias, no sentido da construção de ações coletivas de superação de todo o tipo de violência”, afirma. 

No entanto, com quem fica esse dever, afinal? No bate-papo de título “Debater o discurso de ódio cabe dentro do currículo escolar?“, que ocorreu entre Juliana Cunha, diretora da SaferNet Brasil, e Mariana Mandelli, do EducaMídia, fica evidente que também (mas não só) é papel da escola combater o discurso de ódio e promover a cultura de paz nas escolas.  

“É um grande desafio inserir na escola temas tão contemporâneos, que são desafiadores até mesmo para a gente, que também ainda está construindo as respostas. Eu diria que, sim, a gente pode, de maneira transversal, trabalhar todos esses temas. A internet é um espaço muito favorável para que esses assuntos surjam, porque cada dia tem uma novidade – mais oportunidade do que isso para despertar a atenção e interesse dos estudantes não há”, comenta Juliana. 

Contudo, segundo a diretora, não basta somente esse movimento. “É preciso repensar a escola, porque claro que a BNCC é um grande avanço, em que saímos de um modelo mais conteudista, mas ainda temos uma formação de professores focada no conteúdo. Precisamos repensar não só o currículo escolar, mas a própria formação dos professores“, reitera. Ela reforça que não é apenas sobre “fazer uma aula”. “Como é que eles se apropriam desses temas e como incorporam isso na atividade escolar? Não é fazer uma aula sobre empatia ou crimes de discurso de ódio; isso precisa estar entremeado na rotina e nas atividades. Precisa ser transversal e quase que transparente nesse sentido – não é o objeto em si, mas o que permeia toda e qualquer atividade e discussão realizada em sala“, destaca. 

O professor José Ivaldo destaca, entretanto, que essa responsabilidade não é – e não é possível que seja – única e exclusiva das escolas, mas reconhece que o espaço é um território favorável para a promoção da cultura de paz nas escolas. “Elas são territórios privilegiados para o desenvolvimento de programas, projetos, atividades e ações de sensibilização e formação de crianças, adolescentes e jovens para a construção de uma sociedade mais humana e menos violenta”, declara. Mas reforça que é algo que extrapola os muros da instituição, também. “A paz, assim como outros conhecimentos difundidos nas escolas, precisa ser aprendida e cultivada. Exige um processo contínuo de aprendizagem, construção e reconstrução permanente, dentro e fora da sala de aula”, pontua.

>> Leia também “Vulnerabilidade é potência: quando as emoções e a aprendizagem andam de mãos dadas

7 formas de promover a cultura de paz nas escolas

Entre as recomendações para tornar a cultura de paz nas escolas cada vez mais real, estão as apresentadas a seguir. 

  • Fomentar e incentivar a construção de diálogo acerca do respeito à diversidade em todo e qualquer aspecto. Utilizar exemplos da mídia para despertar o pensamento crítico do estudante e trabalhar o tema é um bom caminho.
  • Discorrer sobre casos reais a fim de que a turma tenha noção dos impactos causados na sociedade. 
  • Desenvolver projetos ou utilizar exemplos da própria escola que podem servir para mostrar a importância da diversidade no dia a dia. É importante que o tema seja tratado de maneira ampla, englobando todos os tipos de diversidade – etária, racial, cultural, de acessibilidade, orientação sexual, identidade de gênero, religiosa, etc. 

Outras formas de trabalhar a cultura de paz nas escolas – e que tiveram sucesso – foram citadas por José Ivaldo na reportagem do G1. O professor destacou quatro: 

  • Capacitação de estudantes para que possam atuar como protagonistas na mediação de conflitos entre seus pares.
  • Implantação de uma sala de mediação de conflitos nas escolas, a fim de que os estudantes possam atuar como mediadores no atendimento dos colegas.
  • Realização de assembleias escolares em sala de aula, na qual os conflitos são apresentados, e a turma pode contribuir com a busca de soluções.
  • Formação de professores, auxiliares, estudantes e famílias sobre cultura de paz, comunicação não violenta e mediação de conflitos, criando assim um ecossistema de cultura de paz na comunidade.

Fonte: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2023/04/16/entenda-o-que-e-cultura-de-paz-nas-escolas.ghtml

Como outros países combatem a violência escolar

Finlândia, Chile e Estados Unidos. Como esses países combatem a violência escolar? Esta matéria do G1 compartilhou exemplos de como esses e outros países promovem a cultura de paz nas escolas. As informações foram retiradas de um levantamento da consultoria Vozes da Educação, demandado pela Fundação Lemann. Confira, a seguir, os exemplos mostrados na reportagem.  

Canadá

Política: o país conta com medidas regionais como o “School Mental Health Ontario” (Saúde Mental Escolar de Ontário) e o “Children’s Mental Health Ontario” (Saúde Mental das Crianças de Ontário), que funcionam na província onde fica a capital do país, e o “Mental Health in Schools Strategy – British Columbia” (Saúde Mental em Estratégia Escolar na Colúmbia Britânica).

Para quem: as iniciativas atendem a crianças e jovens, da pré-escola ao ensino médio.

Como é aplicada: as medidas atingem a comunidade escolar – alunos, pais e professores – com recursos e formação para escolas, a fim de propiciar saúde mental aos alunos e atuar contra o bullying, visando garantir uma convivência saudável no ambiente escolar.

Chile

Política: o “Programa Habilidades para la Vida” (Programa Habilidades para a Vida) existe desde 1998 e é comandado pelo Conselho Nacional de Auxílio Escolar e Bolsas de Estudo.

Para quem: beneficia estudantes da pré-escola ao ensino médio e envolve alunos, pais e professores.

Como é aplicada: o programa é adotado em regiões de vulnerabilidade econômica e social, com o objetivo de melhorar o desempenho escolar e o bem-estar mental e trabalhar habilidades pessoais.

Estados Unidos

Política: projeto “Cal-Well“, na Califórnia; “Política de Saúde Mental Escolar“, na Carolina do Norte; e “Iniciativa de Saúde Mental“, de Wisconsin.

Para quem: as três políticas estaduais visam beneficiar alunos da pré-escola ao ensino médio.

Como é aplicada: os departamentos de educação locais instituíram os próprios programas a fim de estabelecer a prevenção e a promoção da saúde mental, além de identificar casos mais graves e sinais de alerta que precisem de atenção extra de profissionais da psicologia.

Fonte: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2023/04/24/foco-na-saude-mental-veja-como-finlandia-canada-e-outros-paises-combatem-a-violencia-escolar.ghtml

Essas informações sobre a cultura de paz nas escolas foram úteis para você refletir sobre o que pode ser feito em sala de aula? Leia também sobre a pedagogia da resiliência.

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