Educação antirracista: da teoria a prática

Blog Educação antirracista: da teoria a prática

30/06/2023
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Conteúdo avaliado e validado por Rafael Gregório, especialista em Diversidade e Inclusão 

“Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”. Essa famosa frase de Angela Davis, filósofa norte-americana, provoca uma reflexão sobre o combate ao racismo estrutural no Brasil. O processo de ensino-aprendizagem, claro, é fundamental nesse movimento. É por isso que hoje vamos falar de educação antirracista – um dos principais temas nos quais ficar de olho. Neste post, você vai entender o que é, quais os seus desafios, como colocá-la em prática e como a Educação Empreendedora pode apoiá-la. Acompanhe! 

O que é a educação antirracista

Antes de qualquer definição, é importante ter em mente que combater o racismo é lei. A prática da educação antirracista está nos principais documentos brasileiros, como o Plano Nacional de Educação (PNE), a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes Bases (LDB). 

Vale saber que, em 2003, foi instituída a Lei n.º 10.639, que alterou a LDB e tornou obrigatória a inclusão no currículo da rede de ensino da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. Em 2008, a Lei n.º 11.645 incluiu nessa determinação a obrigatoriedade de trabalhar, também, a temática dos povos originários indígenas. Esse foi considerado um marco na educação antirracista; mas, anos depois, ainda há um longo caminho pela frente.

Veja a definição de educação antirracista publicada pelo Centro de Referências em Educação Integral:  

“A educação antirracista é aquela que ativamente combate toda e qualquer expressão de racismo na escola e no território, reconhece e valoriza as várias contribuições passadas e atuais, em todas as áreas do conhecimento humano, de africanos e afro-brasileiros para o Brasil e o mundo. […]

A educação antirracista é essencial para a construção de uma sociedade mais equitativa e menos violenta, bem como para combater a exclusão escolar, garantir o direito à educação e o desenvolvimento integral de todas e todos os estudantes, visto que 76% das vítimas de homicídio no Brasil são negras (Atlas da Violência) e quase metade dos homens negros, de 19 a 24 anos, não concluiram o Ensino Médio (IBGE).

Nas escolas, isso significa, em primeiro lugar, reconhecer que o racismo também existe nesses espaços. Isso porque elas não são imunes e segmentadas da sociedade — elas são constituídas e construídas pelas mesmas pessoas que circulam na sociedade.”

O último parágrafo traz uma reflexão fundamental, que deve estar clara para todos os membros da comunidade escolar, desde os diretores à equipe pedagógica: reconhecer que o racismo também está presente nas instituições escolares. 

A página de boas-vindas do documento “Indicadores da Qualidade na Educação: Relações Raciais na Escola”, elaborado pela Ação Educativa, reforça a relevância dessa questão e fala diretamente com educadores, gestores, estudantes e familiares. “O racismo ainda é um problema pouco assumido na sociedade brasileira. Muita gente diz: ‘Aqui na minha escola ele não existe!’ ou ‘Aqui a gente não vê racismo!’. No entanto, as estatísticas oficiais e diversas situações cotidianas dizem o contrário: o racismo existe e está presente entre nós. É necessário nos dispormos a reeducar nosso olhar, os ouvidos e as atitudes para reconhecê-lo, e atuar para superá-lo”. 

Bullying e racismo: é a mesma coisa? 

Um desafio que deve ser pauta de qualquer instituição escolar quando o assunto é educacação antirracista é a correta diferenciação entre “racismo” e “bullying” – eles não são a mesma coisa, e isso deve ser evidente para toda a comunidade escolar. “Vale atenção à confusão do racismo com o bullying: enquanto o primeiro é estrutural, vise somente os estudantes negros e diga respeito à crença violenta de que existem raças superior e inferiores, e todo o conjunto de características que as definem e acompanham, o bullying pode afetar a todos e caracteriza-se por ocorrer exclusivamente nas relações interpessoais”, pontua o artigo do Centro de Referência em Educação Integral.

O tema também foi pauta de uma matéria publicada na revista Pais & Filhos, que alertou para o perigo de colocar o racismo e o bullying em uma mesma categoria. “Enquanto o bullying é uma prática cada vez mais discutida fora e dentro do ambiente escolar, o racismo segue sendo prática frequente, materializando-se de maneira velada ou explícita também no ambiente escolar, tornando-se um problema abordado de maneira esporádica e superficial, mas que prejudica amplamente a qualidade de vida e a saúde física e mental de crianças e adolescentes em idade escolar, e com reflexos nocivos inclusive na vida adulta. Embora ambos sejam comportamentos prejudiciais, a maioria das instituições de ensino trata os atos de racismo que ocorrem dentro do ambiente escolar como bullying, enfrentando de maneira igual problemas que, por terem natureza diferentes, precisam de ações de prevenção e combate distintas”, revela o texto. 

Como colocar a educação antirracista em prática

Depois de reconhecer que o racismo existe também no espaço escolar, é importante garantir que pessoas negras façam parte das tomadas de decisão da instituição. Rever o Projeto Político-Pedagógico (PPP) e garantir que estejam previstas práticas pedagógicas voltadas para o assunto também é crucial. 

Outro movimento que pode apoiar na educação antirracista é fazer uso das práticas da Educação Empreendedora, como as metodologias ativas, para colocar o assunto em pauta. Com a Sala de Aula Invertida, por exemplo, é possível provocar os estudantes e instigá-los a pesquisarem sobre temas relacionados ao racismo. Com a Aprendizagem Baseada em Projetos, o grupo pode propor uma solução para um problema definido pelo educador (um caso de racismo em sala de aula, por exemplo); o mesmo vale para o Design Thinking.

Entre as outras dicas, estão algumas compartilhadas por Juliana de Paula Costa, pedagoga especializada em Relações Raciais, e publicadas no Centro de Referências em Educação Integral. Veja a seguir. 

  • Convidar que os educadores pensem sobre o seu lugar de fala, com a proposta de avaliar a sua posição nas relações de poder da sociedade. “Ter consciência da própria identidade vai fazer com que o olhar do educador seja implicado em todo o processo que precisa ser desenvolvido para uma educação antirracista, porque esse é um trabalho de relação, não é apenas um conteúdo”, explica a pedagoga.
  • Encarar o racismo como um tema atual, sem limitá-lo ao passado. “É preciso assumir que o racismo existe, que permeia todas as nossas relações e conseguir falar abertamente sobre isso”, lembra Juliana. 
  • Sugerir que os professores revisem o currículo, reavaliando o planejamento semanal, mensal e anual, e entendendo como a questão racial pode ser trabalhada ali. Isso pode se dar de diversas formas, que pode mudar de acordo com o perfil da turma, mas o essencial é que seja feito de maneira integrada. “Não é necessário abrir um momento específico, como se fosse uma disciplina extra, mas integrar às disciplinas”, diz a professora. 

Gostou desse conteúdo sobre educação antirracista e acredita que ele será útil para a sua jornada? Aproveite para conferir outros temas relevantes no Blog do CER.

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